Pesquisa revela que o sentimento predominante dos profissionais durante o período foi negativo para 67% das pessoas

Não é novidade alguma que o home office, o isolamento social e o chamado ‘novo normal’ transformou a vida de todos. Para medir os impactos da pandemia na saúde emocional dos profissionais, a People+Strategy – consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano – realizou uma pesquisa ao longo do primeiro semestre de 2021 e coletou mais 4.319 respostas.

Em um questionário com perguntas de múltipla escolha foram abordados temas como a gestão das emoções e ansiedade, alterações no comportamento e motivação, entre outros. Os respondentes trabalham nos setores assistenciais (hospitais, pronto socorros e clínicas), administrativo, resgate, diagnóstico por imagem, call center, comercial e odonto.

Com a rotina profundamente modificada, as emoções foram à flor da pele durante a pandemia. Num resultado que salta aos olhos e preocupa, o sentimento predominante durante o período foi negativo para 67% dos pesquisados. Medo, ansiedade, insegurança, incerteza, tristeza, cansaço, angústia e preocupação foram as sensações mais citadas. Os profissionais viram o seu dia a dia profundamente modificado por incerteza e insegurança em protocolos de atendimento e atenção, somados aos seus medos e anseios profissionais na esfera pessoal e familiar.

A diminuição da alegria foi uma realidade para 25% das pessoas, enquanto o medo aumentou em 4,5 vezes, a tristeza 3,5 vezes e a raiva 3 vezes. Os níveis de stress e ansiedade também dispararam. Em uma escala de 0 a 10, 741 pessoas responderam grau 10, contra 107 antes da pandemia. Com números grandiloquentes como estes, não há como não esperar abruptas e profundas mudanças na forma e no resultado dos relacionamentos profissionais e da esfera pessoal.

E qual a saída quando os sentimentos não estão em ordem? Para 2605 pessoas, o melhor é fazer algo que lhe faça bem, como ouvir música ou interagir com um animal de estimação. Já 1821 pessoas preferem conversar com amigos e familiares. Distrair-se, mudar o foco, passou a ser uma questão de sobrevivência emocional.

Agora, quando o assunto é a quantidade de trabalho, os resultados são surpreendentes. Com a pandemia houve um aumento de 120% no número de pessoas que fazem jornadas de mais de 12 horas diárias, seguido por um crescimento de 20% das que trabalham entre 10 e 12 horas.

Quem trabalha mais em intensidade e jornadas longas, dorme menos e tem a qualidade do sono comprometida pela tensão e ameaças ao equilíbrio emocional. Apenas 43% descansam mais do que sete horas, comparado a 68% antes da pandemia. E aumentou em três vezes a quantidade de pessoas que conseguem repousar apenas três horas! Sob qualquer aspecto da saúde física, mental e emocional (se é possível dividi-las apenas de forma ilustrativa) um número insuficiente para garantir a tomada de decisão com plena capacidade, o humor, a auto-motivação e, relacionamentos saudáveis.

O lazer e a interação com a família também diminuíram. A pandemia fez crescer em 300% (!) o número de profissionais que não tem nenhum tipo de diversão. E, para suportar longas jornadas de trabalho e pouco descanso 25% aumentou o consumo de medicamentos. Num claro sinal de recrudescimento do problema de automedicação (grande preocupação na indústria da saúde), mas que não foi foco de análise específica da pesquisa.

“É assustador a queda da saúde emocional de quem está na linha de frente do combate à pandemia. O aumento da jornada de trabalho, diminuição das horas de lazer e do tempo dedicado às relações afetivas, agrava o quadro. Passa a ser imperativo prover condições de trabalho e acolhimento que ampliem a qualidade e uma perspectiva positiva de mudança de curto prazo”, aconselha João Roncati, diretor da People+Strategy, consultor e especialista em estratégia, planejamento e transformação cultural.