A tentativa de reorganização do sistema de ensino no estado de São Paulo foi um dos principais focos de notícias, discussões e motivo de muita repercussão para todos os brasileiros nos últimos meses. O governo tentou implementar, por decreto, uma reforma na educação estadual envolvendo uma especialização das escolas nos ciclos de ensino e a liberação de prédios escolares. A decisão impactaria cerca de 10% do total de estudantes do estado e fecharia mais de 90 escolas. Porém, na semana passada, o governo decidiu suspender o plano.
Não é difícil responder o que motivou essa suspensão. O Brasil vivenciou ações dos estudantes, jamais vistas antes. Ocupação de escolas, manifestação nas ruas, na internet e no prédio do governo. Muitos podem não ter percebido, mas foi um marco na história da educação do País. Os estudantes mostraram que não são mais passivos e que o governo não pode, simplesmente, implementar o que bem entende nas escolas. Os jovens, assim como as famílias e os próprios professores têm voz, cobram participação nas discussões e tomadas de decisões e, principalmente, querem mudanças e melhorias nos processos e métodos de ensino.
Eu acredito que essa mudança de comportamento e a nova geração de estudantes retratam novos ciclos na educação. Toda essa questão da reorganização ainda trouxe à tona diversas discussões sobre o futuro das escolas, transformações nos sistemas educacionais e eficiência no ensino. Os alunos reivindicam por desenvolvimento e melhorias. Mas o que será exatamente que esses jovens esperam das escolas do futuro? Em sua última edição, a Horizon Report, pesquisa realizada pelo New Media Consortium, mostrou que o aluno da geração atual quer, cada vez mais, aprender e estudar em qualquer hora ou lugar, com apoio constante das mídias e das redes sociais.
E é aqui que eu trago novamente a questão da inserção da tecnologia no ensino como futuro necessário para as escolas. De acordo com a pesquisa da Penn SchoenBerland, para 77% dos brasileiros, as escolas e professores devem se apoiar mais na tecnologia para melhorar o sistema educacional.
Os recursos tecnológicos estão fortemente ligados com a nova ideia de “escola do futuro”. E não pensem que estou falando de tecnologias mirabolantes e científicas, que transformarão uma sala de aula como nos filmes futuristas. As escolas têm que ter tecnologia, mas aquela voltada para facilitar o corpo docente e a aprendizagem do aluno.
A escola do futuro não tem um manual de como ser construída, nem está pronta esperando para ser implementada. Os estudantes, que deixaram de ser passivos, querem agora participar dessas discussões, sugerir novas aplicações e, aos poucos, estão mostrando para professores e membros do corpo docente como a tecnologia está inserida na vida deles, inclusive nos métodos que usam para estudar e aprender. Vejo cada dia mais como a utilização de ferramentas colaborativas, mobilidade e games são usados para integrar a tecnologia à educação.
Não poderia deixar de ressaltar que, inclusive, já existem no nosso País, alguns institutos e organizações que, entendendo esse panorama, criam e apoiam práticas educacionais inovadoras, baseadas em tecnologias digitais como parte fundamental de um futuro do método de ensino. Na minha opinião, recursos tecnológicos por si só não darão origem a uma nova educação, mas podem permitir a criação de ações, que facilitem o alto engajamento e o desempenho diferenciado dentro dos sistemas de educação.
De toda forma, ainda é necessário, para que tudo isso aconteça, a criação de um ambiente pedagógico propício para inserção tecnológica. E aí, depende de diversos fatores como o posicionamento dos estudantes, a formação de professores e o acolhimento do próprio estado. A verdade é que ainda temos muito pela frente, mas os próprios estudantes já estão mostrando como podem e mudarão a realidade da educação brasileira.
* Por Marcos Abellón, diretor geral da W5 Solutions que criou o Q2L – ferramenta multiplataforma de aprendizado, que utiliza conceitos de gamification para apresentar seu conteúdo ao aluno/jogador e tem disponível: os idiomas inglês e espanhol, além das disciplinas do Ensino Médio. Mais informações em: www.q2l.com.br