O medo de falar um novo idioma

Saltar de paraquedas. Escalar uma montanha. Mergulhar com tubarões. Uma reunião de trabalho decisiva. Quem nunca sentiu medo antes de encarar uma situação desafiadora? Há várias explicações científicas para o medo. Alguns pesquisadores acreditam que esse sentimento foi fundamental para o nosso processo evolutivo. Afinal, muitas vezes ele é o repressor de impulsos que nos alerta de um perigo a nossa própria vida, como dirigir em alta velocidade ou andar sozinho em um lugar deserto. Quando chega aquele friozinho na barriga é sinal que nosso organismo está liberando uma considerável quantidade de adrenalina, o que gera aceleração dos nossos batimentos cardíacos e nos prepara para uma possível defesa. Entretanto, se por um lado o medo pode ser uma defesa, também pode significar uma problema para alguns aspectos da vida. 

Não é difícil encontrar pessoas que, embora sonhem em seguir outra carreira, se prendem ao atual trabalho por terem medo de se arriscar ou de perder a estabilidade financeira. Nos dias atuais esse é um dos exemplos de medo que reprimem e podem contribuir para um arrependimento no futuro. Outro muito comum é aquele receio de começar um curso ou especialização e não evoluir na carreira. Por mais que a necessidade de aprender uma segunda língua (principalmente o inglês) seja obrigatória, muita gente não acredita que irá conseguir acompanhar as aulas e se tornar fluente. Seja por já ter tido más experiências, ou por achar muito difícil encaixar a rotina de estudos no seu dia a dia. Ou seja, vemos pessoas que deixam de estudar e perdem boas oportunidades profissionais por isso. 

Há também vários outros fatores que podem contribuir para que o medo se torne uma pedra no sapato quando o assunto é aprender um novo idioma. Observo que muitos alunos são muito críticos com relação ao próprio aprendizado, e muitas vezes, se sentem mal ao ter que pronunciar algo errado na frente dos colegas e do professor. Costumo dizer que a autocrítica pode ser muito benéfica quando usada para tentar melhorar o ensino, ou seja, quando o aluno percebe seus pontos fracos e o desenvolve. Mas quando isso se torna um empecilho, é preciso reavaliar a situação e lembrar que todos (inclusive os professores) têm seus pontos fracos e se empenham para melhorá-los. Sabemos que por vezes é frustrante não conseguir a pronúncia fonética correta, ou não absorver o vocabulário, mas isso é questão de prática.

Em outros casos, o medo soma-se ao fato do aluno não gostar de estudar idiomas. Já conheci muitas pessoas que acreditavam não gostar de aprender novas línguas. E os argumentos são os mais variados possíveis: desde “é muito difícil”, até o famoso “por que preciso aprender esse idioma ao invés dos estrangeiros aprenderem o português?”. Fato é que por vezes vi esses mesmos alunos se dedicando e obtendo excelente rendimento. O segredo é descobrir um método de estudo que faça com que o aprendizado se torne algo leve e natural. Tenho certeza que até mesmo o maior defensor de que os idiomas são “chatos” irá se animar com eles quando começar a compreender a estrutura gramatical, a fonética… 

Lembra que quando criança você sempre queria ter seus pais por perto quando ficava com medo? Isso acontecia porque eles eram as pessoas nas quais você mais confiava. A confiança é um fator chave quando o assunto é o ensino de línguas. É fundamental ter por perto um professor em que confie, que irá te ajudar a superar as suas dificuldades, e de quem você não terá vergonha de conversar e de expor seus pontos fracos. Um bom profissional com certeza ajudará muito na superação do medo das aulas. 

Compreender a estrutura e a pronúncia de um novo idioma faz parte de um processo gradual. Durante esse período, é comum que apareçam as inseguranças e medos. Mas eles não podem ser um empecilho para o aprendizado. Lembre-se que, quando a roda começar a girar dificilmente ela irá parar, ou seja, conforme o seu cérebro vai associando as estruturas básicas do idioma, as mais difíceis passam a ser absorvidas mais naturalmente. É como aqueles desafios de matemática que tínhamos que fazer na escola. Quanto mais a gente aprendia e praticava, mais fácil ficava de entender os mais difíceis. 

Não deixe o medo te impedir de realizar seus projetos. Acredite que com o tempo o crescimento vem e o medo vai embora. Mantendo um bom plano de estudos e contato frequente com o idioma, dificilmente esse esforço todo será perdido. Como diria o já saudoso Rubem Alves, “Muito mais difícil que lembrar é esquecer!”. 

*Lilian Simões, diretora da Essential Idiomas, consultoria brasileira especializada em idiomas para executivos.

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