As reivindicações dos caminhoneiros são válidas?*

Após a greve dos caminhoneiros de 2018 diversas lideranças do setor sinalizam uma nova parada, por tempo indeterminado, a partir do dia 1º de fevereiro. Mesmo ainda indefinida e ao que tudo indica com uma pequena participação, há motivos para falar sobre o assunto.

Recentemente o movimento ganhou a adesão da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), entidade ligada à CUT e que diz congregar 800 mil motoristas. O anúncio da participação eleva o número de grevistas para mais de 2 milhões, segundo os organizadores.

Mas será que as exigências dos caminhoneiros são legítimas? Os motivos alegados são muitos, sendo o mais válido deles o aumento dos combustíveis desde o início da pandemia – somente em 2020 o preço do diesel teve 32 reajustes, sendo 17 deles para cima e 15 cortes.

Fica difícil lidar com essa injusta gangorra de preços, já que eles estão atrelados à oscilação do dólar, que aumentou bastante desde a chegada da Covid-19. Mas, se formos refletir, qual foi o setor da economia que não foi afetado em 2020? O preço dos alimentos, por exemplo, subiu 12,4% em 2020 segundo dados do IBGE. Vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais também receberam duros golpes.

Outra questão é o valor dos pneus, que aumentou 60% durante o período. E mesmo com o corte de alguns impostos praticado desde a greve de 2018 o impacto é gigantesco. Isso sem dizer a questão da criação de uma tabela de frete mínimo, parada no STF há bastante tempo.

Porém, por outro lado, há também a visão das transportadoras e das empresas que pagam os fretes. Tarifas mais altas levarão a um aumento ainda maior dos preços na ponta, em um efeito cascata que afeta toda a cadeia. E isso acontecer em um ano onde a pandemia ainda está ativa e a margem de lucro trabalhada é pequena, com certeza não vem em um bom momento.

Já o governo, que segundo os caminhoneiros pouco fez pela classe, tenta ao máximo reverter o quadro. Entre as medidas para evitar a greve estão a inclusão desses profissionais no grupo prioritário a receber a vacina contra a Covid-19, um reajuste da tabela de fretes entre 2,34% e 2,51%  e a suspensão da cobrança da taxa de 16% na importação de pneus, entre outras resoluções.

Mas será que só isso é o bastante? A situação precisa mudar, sem dúvidas. É preciso pensar e refletir, estendendo ainda mais a redução dos custos operacionais no transporte rodoviário de cargas. O governo diz que está revendo a multa por sobrepeso, revisando as regras de pesagem, como também há a promessa de pedágios mais baratos por meio de novas licitações.

Mas quando isso irá acontecer? Não somente os caminhoneiros, mas o Brasil tem pressa de crescer!

*Artigo escrito por Jarlon Nogueira, CEO da AgregaLog – transportadora digital que oferece soluções inovadoras de logística de transporte para a indústria. Mais informações em https://agregalogtransportes.com.br/