Agricultura 4.0 e a aplicação de novas tecnologias no campo

A cada minuto, 23 hectares de terra cultivável em todo o mundo são perdidos devido à seca e à desertificação. É necessário utilizar, de maneira inteligente, a terra para alimentar 9,7 bilhões de pessoas até 2050 e, ao mesmo tempo, preparar-se para riscos, como as mudanças climáticas.

Estratégias para aumentar o fornecimento de alimentos e reduzir o desperdício de alimentos são essenciais. E, para resolver esse quebra-cabeça, um revolucionário movimento ‘AgTech’ vem ganhando força. Chamado também de Agricultura 4.0, ele busca abordar de forma sustentável o rendimento das safras, atualizando as práticas agrícolas com novas tecnologias.

Uma pesquisa do International Food Policy Research Institute calcula que novas tecnologias agrícolas, como espectrômetros portáteis, podem aumentar os rendimentos das safras em até 67% e reduzir os preços das safras pela metade até 2050.

A Agricultura 4.0 também inclui, além de um maior foco na Agricultura de Precisão, a utilização de tecnologias como a Internet das Coisas (IoT) e o uso de Big Data para gerar maior eficiência.

Busca-se na Agricultura de Precisão que os agricultores aproveitem ao máximo os recursos disponíveis. Com a sua ajuda, os agricultores podem adotar uma abordagem mais estruturada para o cultivo e ter precisão do resultado com um alto nível de certeza. Quase todos os aspectos do cultivo – do plantio à semeadura e colheita – podem se beneficiar.

A Agricultura 4.0 encontrava, num passado próximo, enormes entraves nas redes, insuficientes ou indisponíveis em algumas regiões. A chegada da internet 5.0 e de múltiplas formas de transmissão e recepção vêm viabilizando a adoção de tecnologia massiva, isolando também os mais resistentes à sua adoção.

Um exemplo da aplicação de tecnologia no campo é o da Usina São Martinho, em Pradópolis (SP). Foi implantada uma rede 4G com seis torres de transmissão que suportam o recebimento de dados de mais de 700 veículos agrícolas utilizados nos 135 mil hectares de lavoura de cana de açúcar.

Todo o controle é realizado pelo Centro de Operações Agrícolas. Em tempo real, 50 pessoas monitoram as informações recebidas e as transformam em indicadores. Os objetivos do projeto são diminuir os custos operacionais em até R$ 3,00 por tonelada de cana colhida, como também identificar oportunidades de melhoria da produção.

É fundamental considerar que a adoção de tecnologia vem provocando uma mudança nos modelos de negócios, mas fundamentalmente no perfil dos profissionais destas empresas. Assistimos ao longo das últimas três décadas uma grande profissionalização da Agroindústria. Agora, aprofundam-se as competências necessárias à operação e manutenção de tecnologia, o que significa que desde analistas de dados, arquitetos de soluções ou operadores em colheitadeiras quase todos foram automatizados.

O grande receio de muitos é que, com a chegada de novas tecnologias, serão necessárias menos pessoas em todos os processos em especial no campo, desde o plantio até a colheita.

Sim, o número de trabalhadores braçais será menor, porém a inteligência humana será primordial para garantir o correto funcionamento das novas tecnologias e da sua relação com a sociedade. Veja, por exemplo, as 50 pessoas que recebem e analisam os dados da Usina São Martinho. O grande segredo será a capacitação da mão de obra para absorver novas necessidades. Se a substituição se dará na mesma proporção é difícil preconizar, mas nas evoluções históricas anteriores isto ocorreu com a mudança de perfil. Sabemos então que a pressão por qualificação é grande e acelerada.

Com a Agricultura 4.0, estamos construindo um futuro que possibilita a integração profunda da tecnologia com o homem, muito maior eficiência no uso de recursos escassos.

Outro impacto fundamental será na integração de tecnologias e soluções de origens diversas, uma vez que é possível notar que hoje a solução passa a ser mais importante que a afiliação por métodos. A biotecnologia, antes opositora da química aplicada, trabalha lado a lado para produzir alimentos mais saudáveis e o atendimento às boas práticas de ESG.

A Agricultura 4.0 nos impõe um crescente apoio e colaboração com centros de pesquisas nacionais, Universidades (em geral públicas pela concentração da capacidade de pesquisa), atualização internacional constante e uma crescente visão sobre a geração de valor para o consumidor dentro de normas e procedimentos socio-ambientalmente corretos.

As fronteiras a serem conquistadas pela Agricultura 4.0 não são geográficas, mas de produtividade e manejo consciente. Adotar práticas baseadas apenas na expansão de área, sem análise e assunção dos impactos do seu entorno, é buscar uma posição de baixíssimo valor na competição internacional ou arriscar não sair da produção primária extrativa. Seria um futuro não promissor para o país é que visto potencialmente como o celeiro do mundo.

*João Roncati é CEO da People+Strategy – consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano. Mais informações em www.peoplestrategy.com.br