A transformação digital no agronegócio

É inquestionável o fato de que o Brasil possui condições extremamente favoráveis para o agronegócio. Devido às suas características de grande biodiversidade, condições climáticas satisfatórias e enorme área com solos férteis e capacidade de expansão, o setor ocupa um lugar de destaque no país, sendo grande responsável pela geração de empregos e por alavancar a economia.

Os números não deixam dúvidas. Em meio à grande turbulência econômica mundial, provocada pela pandemia do coronavírus – e confirmando as expectativas de vários especialistas, de que o agronegócio deveria sofrer menores perdas, ou até mesmo que deveria ser um dos únicos setores a crescer no Brasil. O segmento registrou alta no PIB brasileiro no 1º trimestre de 2020, na comparação com os três últimos meses de 2019, de acordo com o IBGE. O crescimento foi de 0,6%, impulsionado pela atividade agropecuária básica.

Ainda segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as exportações do Agro bateram recorde em 2020 no acumulado de janeiro a maio e fecharam em US$ 42 bilhões, representando o maior valor já registrado para os primeiros cinco meses de um ano.

Além disso, não há como deixar de comentar a crescente demanda por tecnologia que a pandemia trouxe. Cada vez mais ela está presente no dia a dia das organizações e no agronegócio não é diferente: a transformação digital e a profissionalização do campo vêm trazendo soluções para problemas do setor e gerando impactos positivos para produtores e pecuaristas de todo o mundo.

Quando se trata exclusivamente do agro, é importante ressaltar que a transformação digital está ligada a todas as etapas: planejamento, produção, armazenamento, escoamento e comercialização. O que se coloca como principal em todo esse processo de transformação são a geração, o processamento e a gestão de dados que conectam máquinas e pessoas para o mercado.

Dessa forma, entende-se que é possível – além de necessário – integrar diversas informações do campo geradas por máquinas como colheitadeiras, sensores e imagens de drones e satélites a documentos como planilhas contábeis, controle de estoque, etc.

Com essa integração é possível, por exemplo, tomar decisões mais acertadas quanto a uma nova safra, pois os dados revelam de modo preciso qual será a necessidade de insumos futuros, quais manejos devem ser feitos para a produção, a previsão de receitas e despesas que serão demandadas.

Mas essa questão não se resume à tecnologia. Para que o agronegócio brasileiro cresça no volume que o mundo espera é preciso saber unir a tecnologia às pessoas. Afinal, um aspecto que dificulta, e muito, a implantação da TI neste setor é a capacitação dessas pessoas – tão imprescindíveis para vários processos.

Muitas empresas são bem intencionadas e querem investir em melhorias, mas esbarram na falta de mão de obra qualificada para isso. A verdade é que tecnologia não funciona sozinha e precisa de seres humanos realizando processos e alimentando a maioria dos sistemas.

Existe uma carência de formação, com competências tecnológicas e de negócios que permitam aproveitar, da melhor maneira, essas novas tecnologias digitais. É aos produtores que o ecossistema agritech precisa prover soluções mais simples e efetivas.

Para isso, é preciso fomentar uma visão prática de negócios, entendendo as “dores” dos produtores, traduzindo soluções e aplicando métodos ágeis de desenvolvimento de pessoas para testar e evoluir em ciclos curtos. É preciso ainda que essas soluções sejam incorporadas em modelos de negócios que gerem valor adicional, garantindo que esse ciclo seja sustentável.

Esses empreendedores devem conseguir desenvolver equipes multidisciplinares, criando assim modelos de negócio de sucesso. Dessa forma, será possível acelerar a adoção de tecnologias, fomentar competências e acelerar a curva de aprendizado coletiva, impulsionando uma nova fase de ganhos de produtividade na agropecuária brasileira.

*por Ju Ferreira, palestrante e mentora, criadora da metodologia Alquimia Pessoal, executiva de uma empresa de TI há 17 anos. Mais informações em www.juferreira.com.br e www.alquimiapessoal.com.br