A pandemia impulsionou mudanças nas empresas. E o depois?

Você está preparado para manter o foco? Todas as empresas se transformaram de alguma forma durante esse ano de pandemia. Muitos avanços foram vistos, muitos paradigmas foram quebrados. Mas como as empresas conseguiram superar esses desafios? Quais etapas tiveram de passar para sentir a mudança? As mudanças serão sustentáveis para o mundo pós-pandemia?

John Kotter, professor de Harvard, organizou um modelo em oito passos para o “Change Management” nas empresas após analisar centenas de casos. Aplicar esse modelo retroativamente pode trazer pistas sobre o que deu certo e sobre onde a transformação de sua empresa poderia ter sido melhor. Faça esse exercício. A fase 1 possui 3 passos:

  1. Criar senso de urgência
  2. Formar aliança poderosa
  3. Criar uma visão

Nesta fase, o objetivo é a viabilização do clima para mudança e o alinhamento dos desafios para nova visão. É necessário realizar uma análise do ambiente (reconhecimento de ameaças e oportunidades) e possuir uma definição clara dos desafios para, então, criar uma visão clara das prioridades.

Estes passos refletem bem os primeiros meses que vivemos no início da pandemia. A análise do ambiente estava bem clara pelo menos em um sentido: a economia global iria quase parar e, talvez, sofrer para se recuperar. Todas as empresas montaram comitês de crise, definiram prioridades e alinharam visões assertivas sobre o que não podia ser deixado para trás naquele momento.

Os riscos dessa fase se encontram principalmente em: subestimação de ameaças, liderança “paralisada” e/ou falta de liderança, definição vaga sobre prioridades de ação e resultados esperados. Nos dois extremos, uma visão muito simplista ou muito complexa das prioridades pode afetar o engajamento dos times. Ao menos, no caso da pandemia que vivemos, essa visão estava bastante objetiva na maioria das empresas: manter a saúde das pessoas e salvar o que era possível da performance nos negócios.

Continuando na análise retroativa, a fase 2 do modelo possui outros 3 passos:

  1. Investir em comunicação
  2. Empoderar toda a base
  3. Criar metas de curto prazo (quick wins)

Nesta fase, o objetivo é cascatear a urgência, a visão e as prioridades construídas na fase anterior. O essencial aqui é garantir engajamento dos colaboradores em todos os níveis e alinhar incentivos que viabilizem a mudança. Estes incentivos devem ser de curto prazo (“quick wins” ou missões de 3 a 6 meses) para que o grupo sinta a captura das conquistas no caminho, mantenha o ritmo e a energia a cada nova conquista.

Os principais riscos nessa fase são a falta de comprometimento (o “walk the talk”) dos executivos. Quando a liderança não dá o exemplo para a mudança, toda a urgência enfraquece e a disposição para a mudança não se espalha pela corporação.

Durante aqueles meses iniciais da pandemia, vimos poucos exemplos desse risco se concretizarem. As lideranças nas empresas realmente apoiaram a transformação, não havia outra saída. Planos de curto prazo foram criados, ajustes de processos foram aceitos com menos resistência, novas ideias foram mais valorizadas, a comunicação foi intensa para manter os times focados. Alguns exageros foram vistos, mas na maioria das vezes sempre no mesmo sentido de apoiar a mudança e se adaptar ao novo cenário.

Por fim, a fase 3 traz os últimos 2 passos, que, para muitas empresas, reflete o desafio do momento atual no negócio:

  1. Consolidar melhorias e manter o ritmo
  2. Institucionalizar novas abordagens

O objetivo desta fase é garantir a sustentação do ambiente de mudança para o longo prazo. Aqui, é essencial usar a credibilidade dos quick wins implementados para identificar novas políticas e processos a serem foco de mudança, novas ações de curto prazo devem ser geradas continuamente.

O que nos traz ao grande risco do final do percurso: declarar vitória antes da hora. Muitas organizações ficam satisfeitas no primeiro ciclo e, aos poucos, perdem a energia e voltam a se acomodar no dia a dia. O próximo orçamento volta a refletir hábitos antigos e a urgência desaparece.

Então, após todo o esforço do último ano, sua organização vai voltar a se acomodar quando a pandemia tiver passado? Como provocamos no início do texto: seu time está preparado para manter o foco no que é realmente essencial para o negócio? Toda aquela energia da “força tarefa” de adaptação ao mundo com covid parece estar se reduzindo, algumas boas ideias têm ficado pelo caminho. Se você quer garantir que a caminhada prossiga, que a busca pela mudança continue, garanta que estes últimos três passos sejam respeitados: consolide as melhorias (reconhecendo e premiando talentos), institucionalize as novas abordagens e crie novas prioridades alinhadas à visão desejada.

Segundo Kotter, 70% das iniciativas de “change management” falham. A crise global da pandemia impulsionou muitas mudanças, colocou em movimento diversas visões que eram continuamente postergadas (transformação digital, por exemplo). Mantenha o ciclo de pequenas conquistas de curto prazo, sempre na mesma direção desejada e evite voltar à inércia, pois, muito em breve, novos desafios aparecerão.

*por Leandro Franz, sócio e consultor da People+Strategy. Mestre em Economia com especialização em Teoria dos Jogos pelo Insper e economista pela UFSC. Mais informações em www.peoplestrategy.com.br