Descuidar desse processo significa ter que investir recursos, adiando o processo de realização da estratégia e dos resultados projetados
Você já parou para pensar se a cultura é capaz de sobreviver à enorme ferocidade e disrupção dos negócios tanto de hoje como do futuro? Essa é uma provocação gigantesca e uma dúvida perene tanto para profissionais como para empreendedores.
Mas, afinal, o que é cultura?
Eu costumo utilizar uma definição simples: “cultura é o jeito como nós fazemos as coisas” (Deal Connory). Tudo aquilo que eu faço está contaminado (no bom sentido) pela minha cultura. Reflete o que eu acredito – como os meus valores – e acaba por definir escolhas, decisões e ações.
A cultura é individual, seja para pessoas, grupos ou empresas. No caso das organizações, ela não é a somatória da cultura de quem nela trabalha. Os costumes e comportamentos de uma organização são definidos pelos mesmos princípios e bases dos de um indivíduo. É formado pelas suas crenças, seu passado, pelas suas provocações e pela maneira que atua no mercado.
Então, as pessoas que fazem parte de uma empresa têm a urgência de perceber se a sua cultura individual está alinhada à institucional. Se houver um alinhamento mútuo, isso trará uma sensação de conforto, identidade e uma maior capacidade de realização em conjunto. Já o contrário revelará um nível de tensão crescente e conflitos.
Então essa é uma grande preocupação: se a minha cultura institucional é coerente e está firmada dentro da empresa, será que ela precisará mudar?
A resposta é simples: se cultura é a maneira que se realiza as coisas, todas as disrupções e transformações do negócio serão refletidas na cultura. A questão é que, muitas vezes, essas mudanças não são coordenadas, o que acaba ocasionando em uma cultura acidental. E é preciso muito cuidado para que isso não aconteça.
Procure analisar se a cultura organizacional que levou a empresa até onde ela é suficiente para levá-la até o futuro que foi projetado.
Num mundo de mudanças profundas e contínuas, em setores altamente competitivos ou em rápida expansão, é possível afirmar que provavelmente não é. Se o seu desejo é alcançar transformações duradouras, portanto mudou a estratégia, necessariamente será necessário adequar também a cultura.
Agora, modificar a cultura significa romper com o que era praticado no passado? Existe um conflito entre o velho e o novo na organização?
Uma cultura não é composta de um momento para o outro e nem do nada. Ela é constituída durante um processo progressivo e cumulativo. Não existe velho e novo, é preciso saber o que adicionar, abandonar e aperfeiçoar.
Uma outra consideração importante é não usar termos como Velha Cultura e Nova Cultura. Isso sugere um grande desconforto para as pessoas que ajudaram na construção da estrutura anterior, que se sentirão sem espaço na nova cultura.
No caso de uma mudança disruptiva, como um processo de fusão, haverá uma redução e um reposicionamento dos traços culturais, como também transformações abruptas e mudanças de competências. O ideal é que você gerencie todos esses processos com muito tato para não acabar perdendo profissionais valiosos e talentosos que não se sentirão mais úteis.
O importante é ter entendimento do que a cultura precisa ser transformada.
E, a partir daí, conduzir uma ‘operação’ minuciosa de migração. Com muito respeito às pessoas e convidando-as a participar desse futuro, claro.
De fato, tanto líderes quanto empreendedores devem compreender em profundidade o que é cultura e por que ela é tão importante. A cultura, inclusive, não é um assunto de Recursos Humanos, mas sim um tema da liderança.
Zele para que a transformação organizacional necessária seja acompanhada de um processo de cuidado e respeito que mobilize o melhor de cada pessoa. O importante é buscar a tão necessária convergência entre a cultura individual e a organizacional.
Esse é o papel que estará nas suas mãos. Descuidar desse processo significa ter que investir recursos muito além daqueles que você imagina, adiando o processo de realização da estratégia e dos resultados projetados.
Cuidado e carinho, porque a cultura está carregada dentro de cada um de nós. É imprescindível a manutenção da identidade em organizações e na própria sociedade. E isso poderá ser muito mais valioso do que você imagina.
João Roncati é diretor da People + Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano. Mais informações: http://www.peoplestrategy.com.br/