Trabalhar para receber um pagamento é um conceito muito antigo. Em seu livro “Do Nothing: Break Away from Overworking, Overdoing and Underliving”, Celeste Headlee conta que o primeiro holerite data de 5 mil anos na região do Iraque – o pagamento pelo trabalho foi feito em cervejas.
Brincadeiras à parte, apesar de termos mais qualidade de vida hoje do que tínhamos séculos atrás, nós precisamos admitir: andamos trabalhando demais.
Enquanto na era medieval as pessoas trabalhavam apenas algumas horas por dia e aproveitavam ao máximo o tempo livre, agora a tendência é não termos limite de horas para trabalhar.
Muito antes da pandemia inaugurar essa nova era que vivemos no home office, já considerávamos bastante normal responder e-mails de trabalho no domingo à meia noite.
Vamos aos números que provam isso. Nos EUA, pessoas que trabalham em casa se conectam três horas a mais por dia do que antes dos confinamentos na cidade e no estado, de acordo com dados da NordVPN (empresa que rastreia quando os usuários se conectam e desconectam do trabalho).
No Brasil, segundo a pesquisa realizada com 464 trabalhadores em home office pelo Centro de Inovação FGV-SP, 56% dos entrevistados afirmaram que encontram muita dificuldade ou dificuldade moderada para equilibrar as atividades profissionais e pessoais.
É fácil imaginar como isso acontece. Você ou alguém que você conhece deve ter improvisado um escritório dentro de seu próprio quarto. E convenhamos, assim fica quase impossível se desconectar do trabalho, não é?
Outras pessoas chegam até mesmo a bloquear suas agendas no Google para conseguirem almoçar. Um dia você faz meia hora a mais, no outro mais uma hora e assim, infelizmente, incorporamos cada vez mais a hora extra como um hábito comum.
O problema é que estes hábitos ruins estão nos deixando doentes. Segundo a autora do livro, as circunstâncias não levam ao estresse, mas os hábitos sim.
O hábito de trabalhar demais e por longas horas, por exemplo, é um verdadeiro chamariz para as crises de esgotamento mental.
E os números comprovam isso: 30% das pessoas economicamente ativas estão sofrendo de burnout, distúrbio que leva ao esgotamento físico e mental, segundo dados da ISMA-BR (International Stress Management Association).
Por outro lado, uma pesquisa de Stanford aponta que a performance pode aumentar em até 13% com o trabalho remoto.
Ou seja, estamos entregando mais e a alta produtividade está nos custando o nosso tempo livre. Queremos ser altamente produtivos, encontrar sempre a forma de fazer algo melhor, em menos tempo.
Cultuamos a eficiência de tudo sobre tudo: do corte de cabelo ao bolo de aniversário. Mas nunca estamos satisfeitos. Sempre queremos mais.
Esta é uma realidade descrita no livro de Celeste e que precisamos enfrentar: a eficiência é uma ilusão. A busca pela eficiência nos deixa mais exaustos e estressados.
Nós escolhemos trabalhar longas horas e responder e-mails no domingo à noite porque achamos que seremos punidos ou que esta é a única forma de nos mantermos em nossos empregos ou de conquistar promoções.
Faça um teste mental rápido: você é da opinião de que uma agenda cheia de reuniões é sinônimo de produtividade? Se você não tem nenhuma reunião fica preocupado e quer logo preencher o tempo vazio com trabalho? Bem, então acho que você precisa rever seus conceitos.
Primeiro é preciso entender a diferença entre estar ocupado e ser produtivo. Sim, existe uma grande diferença entre as duas coisas.
No primeiro caso, quantidade é o que importa. Já no segundo é a qualidade das tarefas cumpridas quem manda.
Outra forma de conseguir entender se você está sendo produtivo (e não apenas ocupado) é ver quanto tempo cada tarefa leva para ser cumprida.
Se você logo concluir que está perdendo tempo demais em cada atividade está na hora de considerar cortar o excesso de coisas a fazer e priorizar o que vale a pena fazer ou não.
Com o passar do tempo você verá que não precisa realmente fazer tudo em um curto espaço de tempo. Na verdade você pode escolher fazer algumas coisas no tempo adequado e se sobrar um tempo livre você tem todo o direito de não fazer nada. Isso mesmo.
Faça nada por um período do seu dia. Pare. Respire. Aprecie o silêncio.
Dê a chance para algumas tarefas “ineficientes”, que, para a maioria das pessoas ‘ocupadas’ seria uma baita perda de tempo: churrascos com amigos, ligações telefônicas e até idas ao estádio de futebol.
Pode parecer absurdo, mas a ociosidade não significa inatividade. Apenas significa que você não é governado (a) pelo relógio – o que, segundo Celeste, favorece a flexibilidade, que por sua vez nos faz trabalhar melhor.
Ao contrário do que o senso comum pensa, o ócio favorece a capacidade de pensar, ter ideias e estabelecer estratégias coisas que, por uma ironia do destino, não conseguimos fazer no nosso dia a dia por falta de… tempo!
De uma vez por todas, pare de se tratar como máquina. Ao invés disso, use o ócio para começar uma jornada pessoal de autoconhecimento! Aproveite mais o seu tempo para encontrar o seu propósito e aquilo que te faz realmente feliz.
*por Virginia Planet, sócia-fundadora da House of Feelings – primeira escola de sentimentos do mundo – www.houseoffeelings.com