“Primeiro Tempo – O início da trajetória de Pelé com comentários e depoimentos inéditos” mostra mais do que o começo da carreira deste ícone do futebol mundial. A obra, lançada pela Magma Cultural, apresenta a intimidade do Rei, sua infância, adolescência, a chegada a Santos, a saudade da família, alguns momentos de tristeza e muitos de alegria. E como não poderiam faltar, as conquistas, dribles, jogos marcantes e muitos acontecimentos que somados transformaram Pelé no Rei do Futebol.
Desde quando eu vim do Baquinho para o Santos, eu tinha o costume de orar (antes dos jogos) porque minha família é muito religiosa. Era mais ou menos um ritual que eu sempre fazia. […] Eu falei poucas vezes isso, mas vou falar: eu nunca, nas minhas orações, pedia pra fazer gol ou ganhar o jogo. Nunca. Eu sempre orava e pedia que Deus me ajudasse pra que não tivesse contusão, não quebrasse uma perna, não acontecesse nada com o torcedor. […]
Pelé
Organizada por Luiz Felipe Heide Aranha Moura, a obra possui 320 páginas e está dividida em duas partes. A primeira reproduz o texto de “Eu sou Pelé”, livro de Benedito Ruy Barbosa publicado em 1961. Em primeira pessoa, Pelé conta as lembranças de Bauru (SP), brincadeiras, peladas, as primeiras equipes, sua chegada ao Santos Futebol Clube, a convocação para a Seleção Brasileira e a conquista da Copa do Mundo de 1958, na Suécia.
Esta primeira parte do livro traz reflexões atuais e confissões de Pelé sobre estes momentos marcantes de sua vida pessoal e de sua carreira. Ele conta, por exemplo, que tentou ir embora do Santos após perder um pênalti em uma final de campeonato do time infantojuvenil contra o Jabaquara, grande rival do Santos na época. Felizmente foi impedido por dona Antônia, cozinheira do time, e Sabu e Sabuzinho, diretores. “Eles não me deixaram sair porque eu não tinha autorização. Falei que tinha. E eles disseram que não podia sair sem autorização por escrito. Não me deixaram voltar para Bauru e, sem saber, salvaram a minha vida (risos)”, conta Pelé.
Comentários e histórias contadas por ex-companheiros e figuras importantes que acompanharam o início da carreira do menino confiante e talentoso, que todos já sabiam que teria um futuro brilhante, também estão nesta primeira parte do livro. Entre os depoimentos está o de Luciano Dias Pires, editor do jornal Bauru Ilustrado, que viu os primeiros jogos de Pelé, ainda nos campos de terra de Bauru, quando ele ainda era conhecido como “o filho do Dondinho”.
Pires lembra-se de um jogo do Baquinho em São Paulo em que o Pelé fez cinco gols e o time infantojuvenil ganhou de 12 a 1. “Neste dia eu estava ouvindo a transmissão do Campeonato Paulista pela Rádio Tupi de São Paulo. Aí ele (Aurélio Campos) chamou o Milton Camargo e perguntou: “Milton, e aí, na rua Javari, o jogo do América contra a Desportiva de Araraquara, como é que está?” Disse Milton: “Aqui a torcida está chegando com bandeiras e a gente espera um público entusiasta.” E acrescentou: “Aurélio, aqui na preliminar tem um garotinho, é um centavo vestido de gente… o que ele faz no campo é i-na-cre-di-tá-vel! Cada vez que ele pega na bola, a torcida fica em pé aplaudindo.”
O que a gente vê Pelé fazer… Eu, que tive a oportunidade de jogar ao lado dele durante tantos anos, é uma coisa realmente incrível. Não tem nem como, de leve, querer comparar. Pelé foi acima de todos que eu vi jogar – e eu vi muito jogador bom! Mas, sem dúvida, Pelé foi o maior de todos. (…) Sou testemunha, mais do que quase todo o mundo, pelo tempo que joguei (com ele). Então digo, sem medo de errar: não tem como querer comparar nenhum jogador com aquilo que o Pelé foi e representou. Não tem, não dá, não dá. Ele foi o primeiro e único.
Carlos Alberto Torres
“Primeiro Tempo” apresenta, em sua segunda parte, imagens inéditas do início da carreira de Pelé registradas por José Dias Herrera, que foi um dos primeiros repórteres-fotográficos brasileiros e acompanhou Pelé desde a sua chegada ao Santos Futebol Clube. Herrera guardou as fotos durante mais de 50 anos e entregou a Pelé um pouco antes de falecer, em 2010. São cerca de 200 fotografias, muitas delas nunca antes divulgadas. As imagens mostram a rotina de Pelé, como ele fazendo café, tocando violão, servindo o exército e treinando, além do primeiro casamento do Rei e suas conquistas.
A obra traz depoimentos exclusivos como o de Coutinho, maior companheiro de Pelé em campo. Coutinho conta sobre as tabelas com Pelé e faz reverências marcantes sobre o talento daquele que considera, de longe, o maior jogador de futebol de todos os tempos. Conta também que Pelé era sonâmbulo, o que rendeu muitas risadas nos anos em que moraram juntos. “Era só palhaçada! Ficávamos no mesmo quarto. […] Quantas vezes acordei com ele gritando gooool!!!… Sonhava com futebol. E a gente comentava de manhã: pô, vamos jogar à noite pra quê? Pelé já fez gol pra burro aí. Não tem necessidade do jogo, pode mandar o time de volta, que já ganhamos, ele já fez gol pra caramba (risos)”.
Benedito Ruy Barbosa, Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Dorval, Edu, Formiga, Franz Beckenbauer, Gerson, Henry Kissinger, Jô Soares, João Havelange, Lima, Luciano Dias Pires, Mengálvio, Orlando Duarte, Pepe, Rivellino, Tostão, Zagallo e Zito são os outros depoentes que contam como era a rotina com Pelé e exaltam seu profissionalismo e seu talento.
Ninguém se aproximou do Pelé. Se Pelé fosse uma estátua, nenhum outro jogador chegaria nem à base da estátua. Fazia tudo. Batia de esquerda, de direita, de cabeça. Fazia gols e lances de todas as maneiras possíveis.
Pelé é i-ni-gua-lá-vel.
Zagallo
Serviço
Primeiro Tempo – O início da trajetória de Pelé com comentários e depoimentos inéditos
Organização: Luiz Felipe Heide Aranha Moura
Texto original de Benedito Ruy Barbosa, com comentários de Pelé em 2011
Imagens raras do acervo pessoal de Pelé
Fotos: José Dias Herrera
320 páginas
Editora: Magma Cultural
Preço sugerido: R$ 129,00
Sobre a Magma Cultural
A Magma Cultural é uma editora especializada na produção de livros de arte sobre arquitetura, design, fotografia, esportes e história. A editora se propõe a explorar as riquezas da arte e da cultura brasileiras, utilizando a brasilidade como principal essência e empregando sofisticação na linguagem dos projetos e produtos, criando propriedades com valores conceituais e patrimoniais.
Fundada em 2003, a editora já publicou diversas obras premiadas por sua estética e design. Em 2008, o livro As Moedas Contam a História do Brasil venceu o primeiro lugar do Jabuti, premiação de maior prestígio no setor editorial, na categoria Projeto Gráfico. O mesmo livro levou o terceiro lugar na categoria Capa, enquanto Johnny – Eles Falam da Alma e Marc Ferrez – Santos Panorâmico ficaram entre os 10 melhores nas categorias Fotografia e Projeto Gráfico, respectivamente. Em 2009, foi a vez de 60 Artistas e Arquitetos ficar entre os 10 melhores na categoria Projeto Gráfico. Em 2006 e 2007, Príncipe de Astúrias – O Mistério das Profundezas e De Santos a Jundiaí – Nos Trilhos do Café com a São Paulo Railway ficaram entre os 10 melhores na categoria Capa.