Que as máquinas estão substituindo o homem em diversas atividades é um fato que precisa ser aceito. Não há como fugir. A questão agora vai para além disso: como capacitar as pessoas que ocupavam estas vagas para que exerçam outra função, combatendo os impactos na automação no mercado de trabalho? Esta sim deve ser a preocupação das empresas daqui pra frente.
Este é um problema que já existe e está sendo debatido fora do Brasil. Precisamos falar sobre isso aqui também. Recentemente li uma reportagem que comentava sobre a mão de obra nas Filipinas – país que recebeu multinacionais de grande porte que estavam terceirizando principalmente seus call centers. Agora, com a automação desta atividade, as empresas estão discutindo como capacitar estes profissionais para que sejam realocados. Segundo um estudo da consultoria Tholons Capital, mais da metade dos empregos terceirizados nas Filipinas serão perdidos em alguns anos se não for feita uma reciclagem significativas com estas pessoas.
Neste cenário, há uma exigência maior com as contratações a partir de agora. Afinal, precisam ser pessoas que tenham um perfil resiliente – se adaptando rapidamente aos novos desafios. Também há preocupação com a formação e a experiência, quanto melhor preparado for o profissional, mais chances ele possui de ser contratado, pois pode ser facilmente treinado para ocupar novas funções.
Não é novidade que com as máquinas realizando as tarefas repetitivas sobram as atividades mais analíticas e estratégicas, que exigem pessoas melhor preparadas para serem executadas. Certamente, cabe aos profissionais estarem sempre atentos às novidades e tendências da área em que atuam para que se capacitem e conquistem novos espaços em suas carreiras. Mas as empresas também podem e devem colaborar com este movimento, afinal, a falta de mão de obra qualificada é um problema para todos.
Uma pesquisa realizada em 2016 pela Federação das Indústrias do Rio com cerca de 600 fábricas brasileiras mostrou que, apesar da crise, 60% delas tinham a intenção de aumentar o quadro de funcionários. Contudo, 53% destas empresas tentaram e não conseguiram preencher os postos de trabalho disponíveis por carência de pessoal especializado.
Estes dados nos levam a um outro material, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, que coloca o Brasil na 78º colocação quando o tema é qualificação de mão de obra – são 124 países pesquisados. Se focarmos somente na América Latina, o Brasil ocupa a 15º posição. Para chegar a estes números, eles analisam a educação, distribuição da mão de obra, mercado de trabalho, percepção de negócios e treinamento das empresas, entre outros aspectos. Ou seja, as empresas também têm responsabilidade na formação dos seus colaboradores.
Ainda falando sobre as Filipinas, a associação dos Contact Centers de lá estima que a receita das indústrias crescerá até 8% este ano até 2022, em comparação com taxas de crescimento superiores a 10% no passado. Isso porque capacitar pessoas é tão ou mais difícil do que colocar as máquinas em funcionamento.
Por isso, as empresas devem começar a se movimentar já para se antecipar aos problemas que a falta de mão de obra qualificada pode trazer. Pessoas sem preparo possuem baixa produtividade e também costumam ficar menos tempo em uma empresa. Tudo isso gera um custo que poderia ser evitado. E assim como deve-se ter cuidado e atenção na hora de contratar, é preciso investir no capital humano que a empresa já possui.
Mais uma vez, os números e as pesquisas mostram que o problema não é a automação, mas sim a postura da sociedade como um todo em relação às transformações sociais.
*Por Renan Vazquez, Arquiteto de Sistemas da Indigosoft – startup que oferece soluções de automação digital, focadas em simplificar o trabalho diário de empresas de todos os segmentos, além de consultoria especializada. Mais informações em: http://www.indigosoft.tech