As novas tecnologias poderiam ter evitado problemas na qualidade dos alimentos?*

Os incidentes recentes com a qualidade dos alimentos, principalmente os perecíveis, trouxeram à tona as debilidades no controle da cadeia de abastecimento e os riscos para a saúde pública. Além de afetar totalmente o consumo interno no nosso país, essa triste descoberta também trouxe problemas graves para a nossa economia, já que o Brasil é um dos maiores exportadores de carne do mundo. Só no ano passado foram exportadas mais de 15 milhões de toneladas do produto, quantia responsável por 16% da receita externa do nosso agronegócio. Apenas em 2016, o mercado de exportação de carnes gerou 14 bilhões de dólares para nosso país.

A melhor maneira para manter esse controle em dia é apostar na rastreabilidade. Com o desenvolvimento das tecnologias, já temos produtos que são totalmente rastreáveis, desde a sua fabricação até o momento final da venda. Algumas companhias já estão trabalhando com esse conceito. É possível colocar um código de barras nas embalagens, nas caixas, nos pallets e acompanhar todas as etapas realizadas por cada um de seus produtos, até o momento da venda final. Para acompanhar cada item, sistemas de gestão e dispositivos móveis dão conta do recado.

Em 2008, o departamento de defensivos agrícolas de uma grande empresa da área química iniciou com a ajuda da nossa empresa a utilização de uma solução como essa para conseguir reduzir o número de produtos piratas no mercado da agricultura e também controlar o prazo de validade e lotes no campo. Para isso, a solução foi possibilitar o rastreamento dos produtos desde a sua produção até ele chegar ao consumidor final. Essa é uma forma de ter um controle real do mercado, impedindo que produtos piratas sejam comercializados e garantindo a segurança de todos, das pessoas que manejam o pesticida no campo até aquelas que consomem os vegetais na sua mesa.

Para conseguir chegar a esse resultado, o projeto contemplou a automação de diferentes processos de logística voltados para o consumidor, a utilização de dispositivos mobile para rastrear o produto em qualquer ponto da sua cadeia de vendas (incluindo até mesmo a devolução dos itens não utilizados no solo) e o desenvolvimento de um software capaz de ler códigos de barras lineares e bidimensionais. Como resultado, a empresa conseguiu evitar que diversos lotes falsificados chegassem ao mercado, o que dá credibilidade ao trabalho da empresa enquanto aumenta o seu lucro.

O projeto ainda recebeu dois grandes prêmios internacionais, um relacionado à rede de fornecimento global de mercadorias e outro de excelência na América Latina. Esses bons resultados nos garantiram uma parceria que já dura oito anos.

Os produtos são totalmente diferentes, mas a lógica aqui é a mesma. Aplicando o rastreamento de produtos e também utilizando o conceito de PEPS (Primeiro que entra, primeiro que sai) ou PVPS (Primeiro que vence, primeiro que sai), menos carnes estragariam antes da hora e não teríamos lotes vencidos chegando até a mesa do consumidor. Você pode alegar que, no caso dos defensivos agrícolas, isso fica mais fácil por não ser um produto perecível como alimento, mas posso falar de outra empresa do ramo alimentício que já utiliza esse procedimento para rastrear o leite de caixinha e funciona da mesma forma.

Ter a informação detalhada sobre cada passo do seu produto garante segurança e a qualidade das mercadorias produzidas e comercializadas. É preciso investir já na modernização deste e de outros setores tão essenciais para o crescimento do nosso país.

*Por Luciano Sandoval, diretor de Marketing da MC1 – multinacional brasileira com foco em processos e inteligência de negócios utilizando a mobilidade como plataforma tecnológica. Presente em mais de 20 países com soluções de gestão de equipes de campo para vendas, trade marketing e serviços. Mais informações no site: http://www.mc1.com.br/

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