Se há alguns anos precisávamos sair para fazer compras, hoje basta um clique para você ter qualquer coisa na porta da sua casa. De uma simples pizza, até eletrodomésticos, a conveniência das compras on-line nos permite adquirir (quase) tudo. O último Black Friday está aí para comprovar como estamos nos habituando à comodidade Web. Uma pesquisa feita pela Criteo, empresa de publicidade digital, aponta que as vendas de e-commerce nesta data cresceram 196% na Black Friday.
Já na educação, a transformação é ainda maior. Acredito que esse é o setor que tende a sofrer as maiores mudanças nos próximos anos em decorrência da evolução tecnológica. Muitas escolas têm se questionado sobre os métodos de estudo utilizados no dia a dia. Afinal, como prender a atenção de estudantes em uma sala de aula através do uso da lousa e do caderno, com alunos cada vez mais adaptados a interação on-line?
O perfil dos alunos do ensino fundamental de hoje é com certeza muito diferente de como era na minha época, há uns 20 anos. Eles não só encontram o material didático na internet, como também têm a disposição diferentes fontes e pontos de vista que se contrapõem ao que é ensinado em sala de aula. Sabe aquela história de já chegar ao médico com um pré-diagnostico encontrado no Google? O mesmo vem acontecendo em sala de aula. Além disso, o conteúdo on-line é tão amplo, que alguns alunos aprendem por conta própria o que lhes interessa a partir de tutoriais, vídeos, apostilas, enfim, todo o conteúdo disponível facilmente na internet.
O que fazer então para aliar aprendizado e comodidade a alunos que querem aprender, sem sair de casa, a partir dos novos recursos e estrutura de comunicação que estamos desenvolvendo? Penso que a “sala de aula invertida” se popularizará nos próximos anos.
Trata-se do ensino à distância aliado a um contato mais próximo com o professor para sanar dúvidas e ir às aulas uma vez por semana, por exemplo. O seu diferencial é que na verdade, ele não é tão distante quanto os tradicionais cursos on-line. A diferença é que a “sala de aula invertida” oferece um estudo mais consciente, onde o aluno tem mais contato com os professores e realiza trabalhos mais periódicos de avaliação, a maioria deles, inclusive, presenciais. Embora haja cursos à distância, que são realmente bons, algumas pessoas ainda têm receios quanto a sua efetividade. Até mesmo porque nem todas conseguem manter a disciplina de estudar sozinhas e complementarem os estudos com acompanhamento esporádico.
É por isso que algumas escolas estão adotando a “sala de aula invertida”, principalmente devido a maior procura de estudantes que não têm mais tempo de ir às escolas, mas querem uma educação de qualidade. Além disso, durante o decorrer das aulas, os alunos precisam desenvolver projetos práticos, para mostrar que realmente estão absorvendo o conteúdo didático enviado. Outro fator importante é o contato com outros alunos, que abre espaço para fazer network e se inspirar a partir dos outros projetos elaborados.
Seja pelo horário de trabalho, pela vida caótica nas cidades ou simplesmente por não querer ir e voltar por longos trajetos frequentemente, as pessoas estão aproveitando as facilidades da mobilidade e do crescimento do conteúdo on-line para estudarem e se profissionalizarem.
Neste contexto, nada melhor do que as escolas se adaptarem e desenvolverem materiais cada vez mais completos e instrutivos, que facilitem os estudos assim como os tutoriais encontrados na internet. É importante que esse conteúdo seja desenvolvido pensando no novo perfil de estudante, que é mais dinâmico, objetivo e questionador. Então, é fundamental que os professores que criam e estabelecem esse contato com os alunos também tenham um perfil mais receptivo, que compreenda que o estudante está se tornando cada vez mais protagonista do próprio aprendizado.
É claro que o formato das escolas que conhecemos hoje ainda deve permanecer por alguns anos. Na verdade, acredito que as aulas presenciais, principalmente nos primeiros estágios da vida do estudante, não devem cessar. Elas são fundamentais por uma série de motivos. Entretanto, as escolas devem e precisam se atentar a essas transformações.
Essa é uma das muitas mudanças que a nossa geração ainda presenciará. Como a educação é um processo essencial a todos, penso que ela merece especial atenção e transformação nos próximos anos. Temos jovens cada vez mais interessados em recursos mobile e em programação, e, para aumentar o leque de opções no mercado de trabalho, esse tipo de conteúdo terá que ser inserido em suas formações muito em breve.
Nessa última semana o CEO da Netflix, Reed Hastings, afirmou que a era da TV acaba em 2030. É de se imaginar que isso gerou uma grande polêmica, mas sinceramente não acho que isso está muito longe da nossa realidade. Temos que aceitar que as mudanças estão sempre acontecendo e se ajustar a elas.
*por Lucas Longo, CEO e fundador do iai? (Instituto de Artes Interativas) – centro de treinamento e produtora referência em mobile.