A importância de treinadores nos esportes, nas empresas e em nossas vidas

Sempre que vou tratar do assunto mais presente em meu dia-a-dia, o business coaching, gosto de buscar exemplos mais comuns à vida de todos, como um modo de fugir de uma linguagem às vezes prolixa que a administração de empresas traz consigo. No Brasil, felizmente, temos um povo que é apaixonado por esportes e, sinceramente, não encontrei ainda solo mais fértil de analogias ao que chamo de “Treinamento de Empresários” do que essas paixões nacionais.

No atletismo, no vôlei, no futebol (é claro) e em toda prática esportiva de alta performance há sempre um ponto em comum. Uma figura (quase sempre) discreta, que não sobe ao pódio, que às vezes sequer ‘sai na foto’, mas que não pode ser chamado de coadjuvante nas conquistas: o treinador.

O que o esporte descobriu há séculos vem sendo constatado também por gestores de empresas dos mais diversos segmentos e tamanhos. Pesquisa realizada pela Stanford Graduate School of Business com mais de 200 CEOs, diretores e altos executivos, mostra que pelo menos 94% dos entrevistados acreditam ser positivo o fato de receberem coaching ou aconselhamento de liderança. Impressionante, não?

A presença de um treinador, altamente capacitado, com uma visão externa ao campo de jogo – no mundo dos negócios, que olha a corporação sem estar inserido na rotina dela – é algo tão importante quanto o talento dos seus atletas, ou dos seus gestores, na perseguição pelos melhores resultados.

Naturalmente, as conquistas são mais lembradas do que a preparação. Seja nos resultados das empresas, seja nos pódios, é evidente que a história registra apenas uma foto do gran finale – o ouro, o posto mais alto, o lucro, a meta atingida por uma equipe ou por uma empresa. Em seu livro, “Transformando suor em ouro”, Bernardo Rocha Rezende contraria esta lógica. Bernardinho, técnico de vôlei, famoso por seu rol de conquistas entre as quais estão impressionantes cinco medalhas olímpicas, defende que “Quanto mais você sua no treino, menos sangra no campo de batalha”. Em outras palavras: mais importante que a foto da vitória, é o filme do preparo, de todo o esforço que nos leva até ela.

Um treinador não entra em campo, não joga, mas qualquer um de nós estranharia ver uma equipe em uma final de campeonato, na luta pelo título, sem um técnico. Seria uma cena no mínimo inusitada, não é mesmo? Por que acreditaríamos então que nas empresas seria diferente? Tratemos a partir de agora uma empresa como uma equipe, ou como um atleta de alto rendimento. Se assim pensarmos, veremos que em todas etapas de sua vida, de sua estrada até o sucesso, a importância de um treinador não é algo a se ignorar.

Em “O Mito Empreendededor”, Michael Gebber, descreve bem as fases da vida de uma empresa – infância, adolescência e maturidade. A infância, para o autor, é o momento de nascimento do empreendimento e do espírito empreendedor de seu proprietário. Nesta etapa a empresa evolui, afinal de contas, em quase 100% dos casos, pois o dono é o faz tudo e tem tempo para isso. Ele conhece bem o segmento de mercado, por isso escolheu empreender nele. O fluxo de clientes ainda é baixo, sendo assim, o empreendedor da empresa infantil, consegue dar conta de ‘bater o escanteio e correr para cabecear’. É ele quem atende, quem vende, quem cuida do caixa da empresa. Tudo tem a cara e o toque dele. Muitas vezes até o nome, por exemplo: “Lanches do João”.

Não raro, o negócio do João Empreendedor vai tão bem que começa a ir mal. Isso mesmo! O atendimento personalizado do João atrai e satisfaz cada vez mais clientes. Com o número de pessoas aumentando, o João tem que gastar mais tempo atendendo. Com mais dinheiro entrando, deveria gastar mais tempo também cuidando do fluxo de caixa. Se os pedidos subiram, deveria ter mais dedicação à cozinha. Mas o dia do João tem só 24 horas. As entregas começam a atrasar. O atendimento fica atrapalhado. A gestão do caixa está em risco. Enfim, a empresa que cresceu, está à beira de um colapso, tanto quanto seu proprietário. Ambos ingressam na “aborrescência” da empresa. Neste momento, é que recomendo a busca por um treinador, por um business coach.

Posso recorrer a outro exemplo do esporte para reforçar meu ponto de vista. A habilidade do Neymar acredito que seja inata. Um bom olheiro, no caso o próprio pai que foi jogador, soube identificar e buscou ajuda. No Santos Futebol Clube, com o auxílio e talento de um amplo rol de treinadores, foi possível fazer perdurar e brilhar o talento do jovem e promissor craque. Não fosse isso, talvez nem jogador profissional Neymar tivesse se tornado. Tanto quanto ele, sem um treinamento adequado, uma empresa talvez corra o risco de sequer entrar na adolescência. Basta dizer que levantamento do SEBRAE constata que cerca de 80% das empresas não passa dos cinco anos de vida, e ainda, 80% das que sobrevivem “morrem” nos próximos cinco, restando apenas 4% após dez anos.

Voltando ao exemplo do João Empreendedor, ele não fundou a lanchonete por amar fluxo de caixa. Não pensava que seria necessário medir tempo médio de produção e entrega dos seus lanches. Não imaginava que seria apavorante ver que o crescimento de sua empresa poderia ser um vilão.

Assim como em nossas vidas, a adolescência é a fase da rebeldia, do contato com o novo. É na adolescência muitas vezes que plantamos a semente do que pretendemos para nossa maturidade. Não diferente do que acontece conosco e com nossos planos, porque uns chegam onde querem e outros não? Por que algumas empresas atravessam a adolescência para ocuparem posições de destaque e outras com o mesmo (ou até mais) potencial e inovação acabam morrendo?

Para Bernardinho, o importante não é a diferença entre Vitória e Derrota, mas sim entre Sucesso e Fracasso. “Vitória é quando você ganha. Derrota é quando você perde. Sucesso é quando você ganha e sabe que mereceu a vitória pois preparou-se para ela mais do que os outros. Fracasso é quando você perde sabendo que não se preparou adequadamente. Você sabe que poderia ter feito mais”, define o treinador.

Na adolescência de uma empresa, o Empreendedor não deve aceitar a turbulência como derrota, mas sim buscar apoio. Suar a camisa em treinos, para assim lograr o sucesso e então atingir a maturidade dele como empreendedor e de sua empresa. Se você é um empreendedor e está atravessando a adolescência da sua criatura (sua empresa), espero que a frase de Brad Sugars, fundador de uma empresa de coaching, te estimule para os próximos passos. “A estrada difícil de hoje geralmente leva para dias mais tranquilos no amanhã, isso, é claro, se você aprender ao longo do caminho”.

 

*Por Alejandro De Gyves, diretor para América Latina da ActionCOACH – líder mundial em business coaching para pequenas e médias empresas.

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