Contar histórias faz parte da vida dos seres humanos desde a Idade da Pedra. Com elas nos envolvemos, emocionamos e aprendemos. As pessoas identificam-se com os protagonistas, torcem pelo seu sucesso e, muitas vezes, inspiram-se para atingir seus próprios alvos. Esta é uma ferramenta poderosa, capaz de difundir o conhecimento entre as gerações. E o principal motivo é o nosso cérebro: as pessoas guardam mais facilmente informações que estão dentro de um contexto e que carregam uma carga emocional. O psicólogo americano Jerome Bruner – professor de Harvard e Oxford e responsável pelo o que veio a ser chamado de Revolução Cognitiva – descobriu que um fato tem 20 vezes mais chance de ser lembrado se ele fizer parte de uma história.
Essa é uma informação muito interessante, principalmente quando relaciono ao meu dia a dia. Trabalho alguns anos com treinamentos de colaboradores e já vi muitas empresas investirem pesado em treinamentos que não trouxeram os resultados esperados. Muitas vezes as aulas são preparadas com cuidado, as informações estão bem organizadas, mas pouco tempo depois os funcionários já não se recordam do que lhes foi passado.
Este foi o desafio que resolvi enfrentar. Precisava encontrar um modo de tornar este aprendizado mais eficaz e duradouro, fazendo com que seu conteúdo continuasse fresco na mente dos funcionários mesmo com o passar dos meses. A resposta surgiu mais simples do que eu imaginava: a solução é contar uma boa história.
Atualmente quem mais entende desta arte é o cinema e a televisão. Romances, dramas, comédias, suspenses… Todas as pessoas que já assistiram um filme na vida têm seus nomes favoritos e lembram de diversos momentos da trama. O cinema tem o poder de prender nossa atenção e, com isso, gravar informações na nossa mente.
Um dos mestres nessa arte é o professor de escrita criativa Robert McKee, que dedicou mais de 30 anos ao ensino de aproximadamente 55 mil roteiristas, romancistas, documentaristas e diretores de diversos países. McKee domina os princípios de como contar uma boa história, mas alerta: “Não existe uma fórmula pronta”. Tive o prazer de participar de um de seus seminários nos Estados Unidos e posso dizer que saí de lá bastante impressionado.
As histórias mexem com o emocional das pessoas. E como trazer esta carga emocional para o mundo dos treinamentos corporativos? Um bom modo é utilizar o Storytelling, técnica que consiste em encadear os conhecimentos em formato de história para transmitir um conhecimento. Muito adotada pela publicidade, a técnica permite ensinar de um modo mais interessante, utilizando a emoção. O Storytelling parte do princípio básico de que as pessoas gostam de histórias.
Uma história serve para que as pessoas aprendam com a experiência do outro. Se cada indivíduo tivesse que aprender com sua própria experiência de vida, seria um processo lento e muitas vezes doloroso. É mais fácil ver a experiência do outro e, com isso, começar a antecipar as consequências na sua própria vida. Provavelmente uma pessoa não vai tentar uma ação que já deu errado para uma pessoa conhecida. As pessoas aprendem com as consequências de seus semelhantes.
Todos os dias novas situações nos são apresentadas e temos que, muitas vezes, dar uma resposta rápida. As pessoas não nascem sabendo como lidar com a vida ao longo dos anos. É diferente enfrentar determinada situação aos 20 e aos 60 anos, por exemplo. Todos aprendem com suas próprias vivências e também com a de pessoas próximas. Quem apresenta um histórico de experiências positivas – seja no trabalho ou na vida pessoal – acaba se tornando um padrão a ser seguido.
Relacionando estes conhecimentos com os treinamentos corporativos, é preciso criar situações que estejam relacionadas com a realidade dos colaboradores. Criar histórias que reflitam a realidade da empresa, assim o funcionário irá se reconhecer no papel do protagonista e, com isso, aprender com as consequências apresentadas.
Para introduzir o Storytelling no treinamento é preciso seguir algumas etapas: primeiro, pensar em uma metáfora, uma ambientação que possa ser dividida em episódios; segundo, pensar nos personagens, protagonistas e vilões; terceiro, criar uma estrutura que relacione os episódios, a ideia central e os tópicos do treinamento em questão; quarto, definir o desejo do personagem desde o início dos episódios; quinto, usar as consequências para mostrar como a ausência de procedimento ou o uso incorreto podem criar problemas, obstáculos ou consequências negativas para o personagem; e, finalmente, no último episódio criar uma conclusão.
Uma das principais características do Storytelling, e que garante bons resultados, é o fato de focar mais na experiência do usuário ao invés do processo. Faça o funcionário se emocionar e ele não se esquecerá do conteúdo discutido. Focar apenas em como ele deve proceder não trará os resultados esperados para a empresa, além de ser considerado quase como um castigo pelos colaboradores. Valorizando a experiência todos saem ganhando.
*por Luiz. A. Castanha, diretor da élogos Brasil – empresa especializada em treinamento de colaboradores e reconhecida por aplicar metodologias avançadas