A sigla em inglês para ‘Environmental, Social and Governance’ (ESG) ganhou relevância nos últimos meses como uma grande tendência. Conjunto de práticas e padrões têm como objetivo definir se uma organização é socialmente consciente, sustentável e administrada com responsabilidade, em outro artigo já falei sobre o seu valor dentro de uma empresa.
As discussões geralmente se concentram em como as questões ESG afetarão a estratégia de negócios, as operações e a vida a longo prazo de uma empresa. No entanto, muitos desses debates não mencionam qualquer impacto relacionado aos relatórios financeiros e fiscais.
Mas isso pode estar prestes a mudar, graças a uma revolução silenciosa na comunidade contábil. Assim como acontece com os relatórios financeiros, os contadores têm a oportunidade de liderar essas tarefas por causa de suas habilidades analíticas, conhecimento de negócios e a capacidade de entender e aplicar padrões em relatórios.
E, ao contrário de um compromisso com emissões zero de carbono, que pode levar anos para ser documentado e alcançado, a ‘pegada’ tributária de uma empresa é algo que cada vez mais é pedido que seja relatado hoje.
Hoje, as divulgações fiscais precisam falar cada vez mais para um público mais amplo, incluindo clientes e colaboradores. São os contadores os profissionais mais capazes de fazer essa ‘tradução’ das informações.
Como resultado, os investidores analisam de que maneira as empresas gerenciam seus assuntos tributários, sendo um indicador inicial da administração outros aspectos da agenda ESG.
Existem agora dezenas de trilhões de dólares em fundos de investimento que aplicam os padrões ESG em suas decisões de investimento. Tanto que, com essa popularização, a B3 criou índices que reúnem as organizações que colocam em prática boas políticas e ações, facilitando que investidores acompanhem o seu desempenho na bolsa de valores.
O Índice de Governança Corporativa (IGCT) filtra as empresas que participam de segmentos específicos como o Novo Mercado ou Níveis 1 e 2 e levam a sério a transparência financeira e contábil.
Mas colocar essas análises em prática não é uma tarefa fácil. Elas podem abranger tópicos como estratégia e governança, além de números. É um tópico complexo e as empresas não devem subestimar o tempo que os contadores podem levar para coletar e analisar os dados fiscais.
Explicar essas informações de uma maneira que se crie confiança e seja significativa para os investidores pode ser feito de diversas maneiras pelos contadores. Não há uma padronização – pelo menos até agora.
A boa notícia é que surgiu um precursor que promete oferecer uma única fonte de verdade nos relatórios ESG, chamado de International Sustainability Standards Board (ISSB).
O ISSB fará para relatórios de sustentabilidade o que o International Accounting Standards Board (IASB) faz para relatórios financeiros – desenvolver padrões para as empresas relatarem seu desempenho. Ambos estarão sob a IFRS Foundation, organização que estabelece os parâmetros das demonstrações financeiras de diversos países, inclusive do Brasil.
A maioria das empresas já emite relatórios de sustentabilidade, é claro, mas estes não estão integrados aos relatórios financeiros, tornando difícil ver a relação entre o desempenho financeiro e o de sustentabilidade. A norma do ISSB, que ainda não tem previsão de ser aprovada, possibilitaria a realização de um relato integrado.
Analisar os relatórios fiscais por meio de uma lente ESG tem o potencial de contar uma história mais holística e relevante sobre o propósito de uma empresa, criando assim confiança.
O ESG apresenta uma nova oportunidade de reformular os relatórios como algo positivo para os negócios. O papel dos contadores será, justamente, de não ser mais algo a ser temido, mas sim celebrado.
* Por Umberto Tedeschi é CEO da Abile Consulting Group, embaixador da Leader X e chairman of the board da Agência Brasileira de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (Abids). Mais informações no https://www.linkedin.com/in/umbertotedeschi/