Como a sua equipe está sendo preparada mentalmente para retomar as atividades da empresa no final da pandemia?
Sei que você pode estar achando que esta é uma pergunta antecipada, pois todos estão focados em sobreviver à tempestade econômica que se aproxima e talvez não tenham tempo para pensar nisso agora.
Mas este assunto é muito mais urgente do que imaginamos.
Um estudo publicado na World Economic Forum indica que na segunda metade de 2020 viveremos uma epidemia secundária de burnouts e absenteísmo relacionado ao estresse causado por esta crise do covid-19.
Esta pesquisa feita com uma amostra representativa da população belga mostra que 32% da população classificada como altamente resistente ao estresse antes da pandemia do coronavírus, encolheu para 25% duas semanas após a quarentena. 15% da população que indicava altos níveis tóxicos de estresse antes da pandemia saltou para 25%.
Segundo o estudo, muitas dessas pessoas têm alto risco de absentismo a longo prazo do trabalho e estão suscetíveis a doenças e burnout. Mesmo se permanecerem no trabalho, a pesquisa da Eurofound registra uma perda de produtividade de 35% para esses trabalhadores.
O estudo também compara os efeitos psicológicos da covid-19 aos da SARS de 2002, com possíveis traumas gravíssimos muito semelhantes.
Na China, por exemplo, 28% dos pais que estavam em quarentena com os filhos durante a SARS foram diagnosticados com distúrbio mental relacionado ao trauma.
Entre os funcionários em quarentena em hospitais, quase 10% relataram “sintomas depressivos altos” até três anos após a quarentena.
Outro estudo relatando os efeitos a longo prazo da quarentena da SARS entre os profissionais de saúde encontrou um risco de longo prazo para abuso de álcool, automedicação e comportamento duradouro de “isolamento”.
Isso significa que, anos depois de colocados em quarentena, alguns funcionários do hospital ainda evitam estar em contato próximo com os pacientes simplesmente não comparecendo ao trabalho.
Estressores durante a quarentena
Alguns estressores durante a quarentena são:
Risco de contaminação
Medo de adoecer ou de perder um ente querido
Perda de liberdade
Insegurança financeira
Duração da quarentena (um estudo mostra que aqueles em quarentena por mais de 10 dias apresentaram sintomas de estresse pós-traumático significativamente maiores do que aqueles em quarentena por menos de 10 dias)
Frustração e tédio
Suprimentos inadequados
Informações inadequadas
Preconceito (para aqueles que foram infectados)
Fonte: The Lancet (Fevereiro 2020)
Estes são apenas alguns fatores estressores durante a quarentena que podem gerar efeitos traumáticos consideráveis.
O mesmo estudo do The Lancet mostrou que o impacto da quarentena e do distanciamento social é muito mais sério e pode acarretar em:
Suicídio
Raiva
Ações judiciais
Humor ruim
Insônia
Ansiedade
Irritabilidade
Exaustão emocional
Depressão
Por que falar de sentimentos com seus colaboradores antes do final da pandemia?
Estes dados importantes nos alertam para o fato de que, tão importante quanto preservar a saúde física dos colaboradores, é prestar atenção à sua saúde mental durante a quarentena para poder reduzir ao máximo os traumas que estão por vir.
Sem medidas preventivas eficazes, os colaboradores podem adoecer e perder produtividade, motivação e comprometer fatalmente a capacidade de reação da empresa quando a empresa mais precisar: a hora da retomada.
Esta semana li um interessante artigo escrito pela Aisha S. Ahmad, no Chronicle of Higher Education que alerta para o fato de que, estamos tão preocupados com a tal “produtividade” na quarentena que muitas vezes nos perdemos no meio do caminho. Afinal, qual era o propósito mesmo para terminar aquelas dezenas de cursos online?
Talvez precisemos dar um passo atrás e respirar fundo, antes de continuar. Talvez precisemos olhar mais profundamente para nossos colaboradores e perguntar simplesmente: ‘como você se sente hoje?’
O mesmo estudo belga que alerta sobre o risco eminente de aumento dos índices de burnout e absenteísmo, cita o caso da França, o primeiro país a adotar uma abordagem diferenciada de tratamento após ataques e desastres terroristas nos anos 90.
Além do hospital e do posto de triagem para socorrer as vítimas, o país passou a oferecer também ajuda psicológica para tratamento pós-traumático. Eles entenderam que, além das feridas visíveis havia também outras invisíveis, antes ignoradas pelos tratamentos médicos e militares.
Adotar uma estratégia semelhante como a da França pode ser a única saída para as empresas que queiram manter a produtividade de seus colaboradores no mundo pós-pandemia.
Apoiar seus colaboradores agora, mesmo que, aparentemente, esteja “tudo sob controle” como prioridade não é apenas um gesto de empatia com o colaborador, mas também a forma mais eficiente de garantir que todos estejam preparados mentalmente quando tudo isso acabar.
Para te ajudar nesta importante missão, preparamos um exemplo de questionário para você aplicar aos seus colaboradores. De forma simples e rápida você consegue ter uma visão de como eles estão se sentindo e mapear possíveis ações para implementar. O link com as perguntas está aqui: https://forms.gle/BPt1fmo7uM8QwqQP8
Além disso, o que você pode fazer hoje para preparar seus colaboradores mentalmente para o mundo pós-pandemia? Compartilhe nos comentários, estou curiosa para ouvir você!
*por Virginia Planet, sócia-fundadora da House of Feelings – primeira escola de sentimentos do mundo – www.houseoffeelings.com