É difícil imaginar como seria nossa vida sem a internet e as tecnologias e soluções que ela proporciona. Acontece que, junto com mudanças de paradigmas, surgem novas problematizações e o ser humano precisa reavaliar suas formas de se conectar e viver em sociedade. Estar trabalhando no setor do conhecimento e das tecnologias educacionais me traz uma questão que se coloca além do “ser prático ou não”, “melhorar nossa vida ou não” frente às novidades e evoluções: elas podem estar nos privando de nossa liberdade?
Certa vez, assisti a uma palestra do futurista Gerd Leonhard (https://www.futuristgerd.com/), em que ele comentou que, ao analisar os progressos que têm sido feitos, 90% deles é bom e 10%, ruim. Aí está dada a reflexão sobre a tecnologia ser uma ferramenta que amplia nosso alcance (de comunicação, especialmente), mas que tem seu lado positivo e seu lado negativo. Estamos todos aprendendo juntos a lidar com essa dualidade.
É fato que as novidades, de várias magnitudes e com impactos maiores ou menores, como aplicativos, robôs e assistentes virtuais podem parecer assustadoras. Há máquinas que atendem desde necessidades cotidianas, como marcar horário para cortar o cabelo e ajustar a iluminação e a temperatura perfeita do ar-condicionado de sua casa, até equipamentos, como um helicóptero elétrico, que representa uma transformação na mobilidade, ao prometer realizar viagens de curtas distâncias pelo valor de um táxi até 2022.
O que me interessa em tudo isso é perceber os aspectos preocupantes que podem surgir dessas novas formas de viver a que indivíduos, corporações e nações estão descobrindo como manter.
Isso porque, com a evolução dos recursos tecnológicos, a “faixa dos 10%”, a que se referiu Leonhard, corresponde aos ataques cibernéticos que temos acompanhado, que tiram as empresas do ar e pedem resgates de seus dados (como o WannaCry, de 2017 e que teve alcance global), às fake news, às acusações de manipulações de eleições em diversas partes do mundo e até invasões de celulares de chefes de estado divulgando informações pessoais.
Como qualquer ferramenta, e aliada à aceleração que se transmitem os dados de milhões de usuários todos os dias, a tecnologia também pode ser usada para fins ilícitos.
Penso que o problema disso está em nós mesmos. Há alguns fatores que são tão avassaladores em nossas vidas que sequer damos conta dos impactos que eles podem causar, e falo isso em relação à nossa segurança. Os limites entre a exposição virtual e a real estão cada vez mais borrados. Imagine saber que cada interação e micropasso de sua vida esta sendo vigiado? Likes, compras, conversas íntimas, gostos, relacionamentos, tudo pode estar registrado e vir à tona em segundos.
Como disse Tim Cook, CEO da Apple, em seu discurso para os formandos de Stanford deste ano ao falar de privacidade na rede: “Wedeservebetter, youdeservebetter” (Nós merecemos o melhor, você merece o melhor). A fala é um convite a pensarmos sobre como trocamos nossa liberdade ao permitir que muito de nossa vida seja agregado, vendido e vazado por hackers e sistemas desconhecidos. Temos que mudar essa situação se não quisermos virar escravos dela e presos a uma vigilância digital sem fronteiras.
*Luiz Alexandre Castanha é diretor geral da Telefônica Educação Digital – Brasil e especialista em Gestão de Conhecimento e Tecnologias Educacionais. Mais informações em https://alexandrecastanha.wordpress.com