A tecnologia está evoluindo cada vez mais rápido e as novidades não param de surgir. Internet com 5G de banda, automação nas fábricas, chatbots no atendimento ao consumidor, carros autônomos. Essa é só uma pequena mostra de como a tecnologia está inovando e criando cada vez mais possibilidades para o ser humano. Mas aí entra um ponto importante: as pessoas estão realmente preparadas para lidar com tudo isso?
Vamos aos fatos. A Tesla Motors, montadora dedicada exclusivamente aos carros elétricos, tem o maior valor do mercado automotivo americano. A fabricante chegou no valor de 60 bilhões de dólares em 2017, superando gigantes tradicionais como Ford, GM e BMW.
O modo como nos locomovemos está mudando. E como aprendemos também. Em abril de 2017, a Fox News noticiou que um menino de oito anos pegou o carro de seus pais e levou sua irmã, de apenas quatro anos, para comer um hambúrguer. Os pais estavam dormindo e a menina estava com fome. O mais velho aprendeu a dirigir assistindo vídeos no YouTube.
E isso é apenas o começo. Muitas mudanças ainda estão por vir. E as empresas precisam se adaptar a essa nova realidade e implementar tudo aquilo que seja vantajoso para o seu negócio. Mas, mais do que isso: as empresas precisam preparar as pessoas para viverem essa nova realidade. Se uma nova tecnologia é introduzida em um negócio, mas não existe um esforço de todos para promover o ensino e a naturalização dessa ferramenta para os colaboradores, sinto dizer que a tal ferramenta será apenas mais um obstáculo, não um facilitador. A tecnologia pode trazer mudanças extremamente animadoras para qualquer negócio, mas de nada adianta se as pessoas não forem integradas corretamente a essa nova realidade.
Randall Stepheson, CEO da AT&T disse em recente entrevista que as pessoas que não dedicam pelo menos cinco horas por semana online, aprendendo novas habilidades, estão se tornando obsoletas. Isso representa uma hora por dia útil da semana. Por mais que as pessoas mais interessadas, que gostam de aprender sobre as novas tecnologias por vontade própria, até consigam se dedicar um pouco mais a esse estudo, não podemos esperar que nossos colaboradores tenham, sozinhos, essa disponibilidade. As pessoas trabalham cada vez mais e precisam dividir seu tempo também com atividades sociais, exercícios físicos e ter um tempo de qualidade com a sua família. Por isso, são as empresas que precisam fornecer esse tempo para seu colaborador se qualificar. Não precisa necessariamente ser as cinco horas semanais, mas é necessário ter um tempo de trabalho dedicado exclusivamente a aprender.
Para mim, a inovação é resultado de uma soma. 20% vem da tecnologia, dos algoritmos, das novidades de cada setor. Mas 80% são as pessoas. Elas precisam de capacitação para aprenderem a trabalhar de uma nova maneira, treinamentos para entender como essa nova tecnologia funciona. Além disso, considero imprescindível um investimento – de tempo e dinheiro – em cultura organizacional. Mais do que saber lidar com as novas ferramentas, os colaboradores precisam abraçar o novo, entender como aquilo será positivo não apenas para a empresa, mas para sua carreira e a sociedade como um todo. O período de rápida inovação pelo qual estamos passando é crucial para ditar como será nosso futuro daqui há 10, 20, 30 anos. Como a sociedade recebe essa tecnologia hoje influenciará no futuro de nossos filhos e netos. É a sociedade quem dita as regras da nossa evolução e muito disso acontece dentro do ambiente de trabalho.
Não é só mudar o layout, ou fazer uma missão no Vale do Silício, tampouco fazer um hackaton ou contratar um Chief Digital Officer (CDO). Como diziam os mais antigos “o buraco é mais embaixo”. É preciso preparar as pessoas para esse novo mindset, esse novo jeito de trabalhar, estimular, envolver, fazer experimentar o novo. A partir daí sim todo o resto faz sentido.
Estamos vivendo um período de grandes transformações tecnológicas e sociais, mas uma coisa nunca vai mudar: as pessoas são as responsáveis pela inovação. Sem o apoio dos colaboradores, não adianta investir em máquinas, softwares, etc. Invista primeiro em educação corporativa para conseguir ver os bons resultados se tornarem reais.
Luiz Alexandre Castanha é diretor geral da Telefônica Educação Digital – Brasil e especialista em Gestão de Conhecimento e Tecnologias Educacionais.