Em apenas alguns meses, a crise da COVID-19 trouxe anos de mudança na forma como as empresas de todos os setores e regiões fazem negócios. De acordo com uma pesquisa global da McKinsey, as empresas aceleraram a digitalização das interações com clientes e operações de três a quatro anos.
E a participação de produtos digitais ou habilitados digitalmente nos portfólios avançou em até sete anos. Mas e o mindset das lideranças estratégicas, será que acompanhou as inovações?
Recentemente o livro Liderança estratégica: o “novo normal” na visão de líderes da Alta Gestão foi lançado e tive a oportunidade de escrever justamente sobre essa questão.
O mindset de uma liderança estratégica, na verdade, é uma metamorfose ambulante. Se transforma cada vez que se deita a cabeça no travesseiro, não importa se há novas fases e crises. Fala-se muito do ‘novo normal’ que vai dominar depois da pandemia. Não acredito nessa expressão, mas sim em um ‘novo mundo’.
Nos últimos 20 anos vêm acontecendo transformações – silenciosas ou não – que impactaram tanto a nossa vida pessoal como a profissional. O aumento da velocidade da internet, a computação em nuvem, os bancos e as moedas se tornando digitais e qualquer pessoa pode ter uma ideia genial e colocá-la em prática em uma startup.
Inovar tornou-se um verbo fundamental e, com o lançamento do primeiro iPhone em 2007, o mundo foi da Idade Média para Idade Mídia nas palavras do meu amigo Walter Longo. Dados e conhecimentos se tornaram acessíveis a todos e, hoje, qualquer pessoa tem mais acesso à informação do que um presidente norte-americano da década de 80.
A pandemia serviu apenas como a catalisadora que abriu as portas para um novo mundo. Como um rolo compressor mudou costumes, padrões e culturas – quer se queira ou não.
As lideranças estratégicas não estavam preparadas para tudo o que vem acontecendo. É preciso ter rapidez na tomada de decisões e compreender as mudanças. Mas, sem dúvidas, o comportamento mais importante é a resiliência. Respirar fundo, erguer a cabeça e ter serenidade para enfrentar o que não dá certo, mudando a rota e se adaptando às novidades.
E, se estamos em um novo mundo, além da resiliência as lideranças precisarão ter mais 7 requisitos comportamentais para triunfar:
- Visão: ter uma atitude visionária é muito relevante. É preciso sempre sentir-se no topo de uma montanha e enxergar à frente, essa conduta só vai beneficiar a empresa, a diferenciando das concorrentes.
- Inspiração: Pense em grandes personalidades como Gandhi, Churchill e Madre Teresa. Um líder precisa incitar a inspiração dos liderados, despertando neles a motivação para serem cada vez melhores.
- Adaptação: Não deu certo? Volte duas casas e tente um caminho diferente. A liderança precisa saber se adaptar ao que está acontecendo, ainda mais em tempo de mudanças.
- Verdade: Em um mundo onde as fake news são encaradas como fatos reais e pessoas falsas ganham espaço, a transparência e a verdade são virtudes admiradas em um líder. Não se contentar com pouco, pedir empenho e dizer não nas horas certas, explicando o porquê, conta pontos importantes.
- Acessibilidade: Foi-se o tempo que o líder ficava em uma redoma de vidro. Ser acessível faz parte dos novos tempos, ainda mais diante de situações que inspiram insegurança. Diminui o tempo de resposta, torna a comunicação mais fluida e aumenta as chances de êxito da organização.
- Cumplicidade: Uma liderança sem confiança não é nada. E a cumplicidade precisa vir de todos os lados envolvidos: se um falhar, carrega o outro junto. Sempre é mais fácil receber uma crítica construtiva de alguém que está envolvido no processo.
- Respeito: O ditado é antigo: ‘respeite para ser respeitado’. Não importa qual o cargo do liderado, essa característica precisa fazer parte da personalidade do líder no novo mundo. Todos estão sensíveis neste período de crise e ter empatia faz parte de um bom relacionamento.
Além desses requisitos, é impossível não lembrar também do autogerenciamento. Em tempos de home office, manter a produtividade é um diferencial dos grandes líderes. Mas cuidado para não ultrapassar o limite: sua saúde vem em primeiro lugar.
* Por Umberto Tedeschi é CEO da Abile Consulting Group, embaixador da Leader X e chairman of the board da Agência Brasileira de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (Abids). Mais informações no linkedin