Mentes perturbadas sempre existiram, existem e existirão quando estamos falando de seres humanos. Quantas personalidades famosas se perderam por conta de suas mentes, por exemplo, mas não só, de Santos Dummont e Van Gogh.
O psiquiatra Augusto Cury diz que “mentes estressadas estão sempre em estado de alerta, prontas para reagir e guerrear. São especialistas em gastar energia emocional inútil”. Já Dalai Lama afirma para “não permitirmos que o comportamento dos outros tire a nossa paz”.
Mário Sergio Cortella diz que “o autoconhecimento é uma qualidade importante que contribui positivamente para o sucesso das pessoas”. E eu diria aqui, também o sucesso das empresas já que as pessoas fazem quase tudo acontecer nas organizações, as empresas somos nós! (vide o meu artigo no livro Olhares para os sistemas, Editora Folio, 2022).
Segundo Yuval Harari, “estamos vivendo a era do hacking de humanos, e o autoconhecimento é a principal forma de evitar uma invasão no seu sistema!”.
Não obstante este tema estar cada vez mais em evidência, não se trata de um assunto novo. Mesmo antes da pandemia da covid-19, o Brasil já havia sido considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como um dos países mais ansiosos do mundo.
Segundo a coordenadora médica de saúde populacional do Hospital Albert Einstein, Dulce Brito, “somos o segundo País em termos de depressão, o estresse já é a quarta maior causa de infarto”. Ela diz ainda que os transtornos mentais são uma questão muito antes da pandemia; é como se uma latinha de refrigerante viesse sendo agitada há algum tempo; o que a pandemia fez foi tirar a tampa e com isso o assunto saiu com tudo, ganhou mais visibilidade.
O que está mudando é o comportamento da sociedade, na maneira de enxergar esses transtornos mentais.
Uma doença que tem ganhado destaque nos últimos anos foi o burnout ou o esgotamento, uma síndrome ou distúrbio emocional relacionado à ocupação profissional por excesso de trabalho e ambiente não saudável. Tanto que este problema está na roda de muitas conversas e com casos cada vez mais próximos. Cada um de nós muito provavelmente conhece ao menos um ou mais casos deste tipo de esgotamento, no Brasil ou fora dele.
Esse assunto afeta a vida pessoal e profissional das pessoas. Com relação às organizações é fato que com o passar dos tempos as empresas evoluíram e aperfeiçoaram medidas que garantem a segurança física de seus trabalhadores, diminuindo o número de acidentes de trabalho (risco físico). Porém como a sociedade está mudando constante e permanentemente; as empresas estão diante de um novo e grande desafio, o risco psicológico cada vez mais evidente. Daí a grande necessidade de encarar de frente o problema e trabalhar em profundidade e maturidade estruturando e reestruturando processos, procedimentos, práticas e políticas que devem ser seguidas para oferecer uma melhor e real condição de trabalho e relações mais saudáveis.
As empresas, que querem, de fato, ter um ambiente e relações saudáveis, deveriam se olhar de verdade e entender que se ela tiver um ambiente tóxico, com líderes inadequados, ineficazes não adiantará disseminar uma falsa cultura de saúde e bem-estar, dar acesso a sessões de psicoterapia, meditação, massagem etc; pois o assunto não foi trabalhado na sua raiz.
Os líderes e gestores têm papel fundamental nesse contexto todo, especialmente, para favorecerem comportamentos que coloquem a saúde em primeiro lugar no ambiente laboral.
Não adianta os líderes terem excelente quociente de inteligência e não possuir quociente emocional e comportamental. As pesquisas mostram que o que faz um profissional ser demitido de uma organização geralmente é o fator comportamental e não o técnico. No livro Olhares para os sistemas, consta uma menção de Peter Drucker a respeito disso: “as pessoas são contratadas pelas suas habilidades técnicas, mas são demitidas pelos seus comportamentos”.
Esse assunto não está somente nas mãos dos recursos humanos das empresas, mas sim nas mãos de todos que delas fazem parte e ainda precisa ser melhor enfrentado e muito mais bem “normatizado” e estruturado.
Voltando ao que Mário Sergio Cortella e Yuval Harari mencionaram acima, o autoconhecimento é uma poderosa ferramenta para podermos transitar socialmente firmes nos calçados de nossa própria identidade e valores e não sermos manipulados pelo sistema (síndrome do rebanho).
Quantas pessoas com um bom nível educacional e até social são envolvidas pelos sistemas, incluindo os organizacionais, de maneira negativa, passando a não enxergar sua realidade e direcionando a vida delas e muitas vezes de outros que com ela estão envolvidas, para uma direção ruim? Ou até mesmo, o que é mais perigoso, pode até parecer uma boa direção, num primeiro momento, mas o tempo vai mostrar que não é. Trata-se de uma direção ruim, que trará impactos igualmente desastrosos por muito tempo para as pessoas envolvidas.
Quantas pessoas com uma vida aparentemente normal estão se suicidando, sem que a própria família, a qual convivia com estas pessoas, diretamente, entenderem o(s) real(is) motivo(s) que levaram referida pessoa a tirar a própria vida. A pessoa suicida sai da vida e deixa um cenário de dor e incompreensão para os que ficam.
Quantas pessoas estão desenvolvendo doenças realmente graves por questões emocionais, que depois de algum tempo afetam, por meio dos sintomas, o corpo físico, estando tudo isso muito bem explicado no segmento da psicossomática. Segundo os médicos, esta classe de profissionais jamais viu um cenário em que pessoas muito jovens estão desenvolvendo problemas como o câncer, enfrentando assim situações novas, que não estão nos livros estudados na medicina.
Precisamos estar atentos ao nosso bem-estar físico, mental, emocional e espiritual. Como está sua consciência sobre sua saúde e sobre sua vida?
Sobre Viviane Gago: Mentora, Coach nível sênior, consultora e facilitadora pela VRG Desenvolvimento Humano, autora do libro “Biografia de uma pessoa comum” e de outras obras coletivas, Advogada e Mestre em relações Sociais pela PUC/SP.