Você se lembra quando o planejamento estratégico era um ritual anual, quase sagrado, resultando em um documento que, por vezes, era esquecido antes mesmo do primeiro trimestre terminar?
Em um mundo tão diferente de anos atrás, essa abordagem tradicional não apenas se tornou obsoleta, como perigosa. E se a chave para o sucesso residir na capacidade de recalcular a rota com agilidade e inteligência? O que não significa uma justificativa para abandonar o Planejamento!
A verdade é que a volatilidade deixou de ser uma exceção para se tornar a regra. Como podemos, enquanto líderes, tomar decisões que garantam não apenas a sobrevivência, mas o florescimento de nossas organizações? A resposta reside em uma nova disciplina estratégica: o planejamento em ciclos curtos, ou rolling planning.
O rolling planning subverte a lógica do planejamento fixo e de longo prazo. Em vez de previsões detalhadas para os próximos doze meses, trabalhamos com horizontes móveis e mais curtos. Pense como um GPS corporativo que, em vez de traçar uma rota única e imutável, recalcula o caminho constantemente com base nas condições de tráfego em tempo real. E, como um GPS, vai sendo calculando a melhor trajetória em trechos do caminho, sem esquecer onde você quer ir. Sempre ressalto: o longo prazo é a somatória (óbvia) de curtos prazos. Não há antagonismo entre curto e longo prazo.
Essa abordagem não significa ausência de visão de longo prazo. Pelo contrário, a direção estratégica permanece, mas a forma de alcançá-la torna-se mais flexível e responsiva. Trata-se de manter o destino em mente, mas estar pronto para desviar de obstáculos imprevistos ou aproveitar atalhos que surgem.
De acordo com os resultados de uma pesquisa realizada pela IBM, adotar o rolling planning proporciona às empresas 12% mais precisão, reduzem em 50% o tempo gasto na preparação do orçamento e aumentam sua lucratividade em 10%.
Decisões orientadas por dados em tempo real: o coração do rolling planning
Adotar o planejamento contínuo exige uma mudança cultural ancorada na tomada de decisões orientada por dados em tempo real. E isso implica em:
- Métricas claras e relevantes: definir indicadores-chave de desempenho (KPIs) que reflitam genuinamente o progresso em direção aos objetivos de curto e longo prazo.
- Coleta e análise ágil de dados: implementar sistemas e processos que permitam o monitoramento constante desses KPIs, transformando dados brutos em insights acionáveis.
- Cultura de experimentação e aprendizado: cada ciclo é uma oportunidade de testar hipóteses, aprender com os erros e acertos, e refinar a estratégia. A falha rápida, seguida de aprendizado e ajuste, é mais valiosa do que um plano perfeito e estático.
Um exemplo real de rolling planning pode ser observado em uma empresa do setor de óleo e gás. Diante da volatilidade do mercado de energia, a companhia adota um método contínuo para atualizar estratégias e orçamentos.
O escopo inclui o detalhamento de planos operacionais de curto prazo, geralmente trimestrais, e revisão contínua de previsões para os próximos 12 a 18 meses. Essa abordagem possibilita realocar recursos, mitigar riscos e aproveitar oportunidades, mantendo as decisões e garantindo resiliência diante de um ambiente incerto.
No Brasil já vemos um movimento crescente. Uma empresa da área de Petróleo e Gás adota ciclos de planejamento para ajustar suas estratégias, enquanto outra, que é referência em inovação aeroespacial, utiliza métodos de planejamento adaptativo para gerenciar os longos ciclos de desenvolvimento e as incertezas técnicas inerentes à produção de aeronaves.
Mudar a rota no meio do caminho: é útil ou sinal de fraqueza?
Aqui reside uma das reflexões mais importantes. Por muito tempo, mudar o plano no meio do caminho foi visto como falta de visão ou incapacidade de execução. Hoje, a incapacidade de se adaptar é o verdadeiro sinal de fragilidade.
Realizar ajustes de rota com base em novas informações é vital. Permite se antecipar a crises, explorar oportunidades, otimizar o uso de recursos e se manter relevante. A inovação floresce nesse ambiente, pois há mais experimentação e menos medo de desviar do “plano original”.
Adotar o rolling planning não é apenas uma mudança metodológica, é uma evolução na mentalidade de liderança. Você está pronto para abraçar essa nova disciplina? O futuro da sua organização pode depender disso.
*João Roncati é diretor da People + Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano. Mais informações em site