O impacto das políticas de Trump nos negócios: desafios e oportunidades para a liderança das empresas*

A era de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, marcada por uma política externa imprevisível, injetou uma dose de incerteza no cenário de negócios global. E, para quem está à frente de uma empresa, entender e navegar neste mar revolto não é apenas uma questão de estratégia, mas de resiliência e liderança eficaz.

O anúncio de tarifas sobre produtos brasileiros, por exemplo, não é apenas um dado estatístico, ele se traduz em perdas financeiras concretas: a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) prevê que haja uma redução de R$ 25,8 bilhões no PIB brasileiro em até dois anos. Ou, grandes oportunidades na abertura de novos mercados, ou rotas de comércio.

O primeiro impacto das políticas de Trump foi o choque. Para muitas empresas, o custo de produção subiu, a competitividade diminuiu e a confiança foi abalada. A reação inicial pode ser de pânico e busca por soluções rápidas, mas é nesse momento que a verdadeira liderança se destaca. Exercitar a liderança é ter capacidade de construir contextos para seus liderados.

Um gestor precisa ir além da análise de dados e dos relatórios financeiros. E isso significa traduzir as complexas decisões políticas em uma linguagem clara e digerível para toda a equipe, sendo essencial demonstrar serenidade, evitar o alarmismo e focar no que está sob o controle da empresa. A ansiedade externa pode ser contagiosa, e a liderança tem o papel de ser o ponto de ancoragem. Ou seja, não desconsiderar o aumento da insegurança, mas reagir de forma organizada e planejada.

O papel da liderança em tempos voláteis

  1. Conectando a estratégia à realidade: a primeira tarefa é comunicar de forma transparente a realidade e como a empresa planeja se adaptar. Em vez de somente anunciar cortes ou mudanças, é preciso explicar o “porquê” alguma variável será mais ou menos importante naquele cenário, fugindo da generalidade. Isso envolve buscar e compartilhar informações e mostrar como a empresa está construindo um plano de ação para mitigar os efeitos. A comunicação deve ser honesta, mas não desesperadora.
  2. Cultivando a resiliência e a agilidade: a volatilidade exige mais do que um plano B. A liderança deve incentivar a cultura de agilidade e compreender os efeitos da insegurança gerada pelas mudanças, onde todos estejam seguros para experimentar, aprender e ajustar a rota. É fundamental não se paralisar pelo medo, mas sim se mobilizar para encontrar novas oportunidades.
  3. Oferecendo senso de perspectiva: em meio à incerteza, o líder deve ser o guardião da perspectiva. Empresas com uma liderança sólida e uma equipe engajada conseguem não apenas sobreviver a crises, mas até sair fortalecidas. O segredo é focar a atenção nos objetivos de longo prazo, lembrando o propósito maior por trás do trabalho diário.

Transformando desafios em oportunidades

Se as políticas de Trump representaram um desafio para o ambiente de negócios, elas também criaram oportunidades. As empresas que já tinham um portfólio diversificado sentiram o impacto em menor escala, enquanto as que dependiam fortemente dos americanos tiveram que agir rapidamente.

Além disso, a incerteza gerada por essas políticas reforça a importância do capital humano. Em tempos onde a tecnologia e a regulamentação são fluidas, o diferencial competitivo se concentra cada vez mais na equipe. Líderes que conseguem manter o moral elevado, cultivar o senso de pertencimento e dar autonomia para que seus colaboradores resolvam problemas se colocam em uma posição de vantagem. São as pessoas que, no final das contas, criam as soluções para os desafios impostos.

O ambiente de negócios exige uma nova mentalidade. Compreender variáveis fundamentais do seu negócio e das inter-relações (pensamento estratégico), gerir indicadores críticos dos seus processos e fundamentalmente trabalhar na resiliência humana e da cooperação e da diversidade no ambiente de trabalho. Em ambientes voláteis de mudanças frequentes e contínuas, necessitamos de alternância de perspectivas. Fugir do discurso fácil: esperança não é uma estratégia e um líder precisa ter o desejo genuíno e a capacidade de mobilizar as pessoas, em qualquer contexto, construindo em conjunto possiblidades e perspectivas.

Por João Roncati, diretor da People + Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano.