Cerca de 500 mil anos a.C., o homem dominou o fogo e, a partir daí, começou a exercer uma forte liderança sobre o meio ambiente em que vivia. Um pouco mais tarde, quando ele inventou a flecha, criou um diferencial para liderar os grupos que ainda não dominavam essa técnica. Em 35 mil anos a.C., apareceram registros de que o homem já utilizava diversas armas feitas de ossos, chifres, pedra e madeira. Nessa época, o líder era o mais inventivo, aquele que desenvolvia armas diferentes, matava mais e assim, tinha “poderes” para comandar o grupo.
Voltei à história dos nossos primórdios, para mostrar como os líderes existem desde sempre. A liderança está presente desde os homens das cavernas até os dias de hoje, nos mais diferentes âmbitos. Temos líderes quando somos crianças na turma do colégio, elegemos representantes de classe, e líderes para comandar as brincadeiras. Escolhemos também, os líderes para comandar o governo do nosso país, estado e cidade, além dos gestores que comandam a equipe no nosso local de trabalho.
No âmbito profissional é mais do que natural termos líderes, que comandam e direcionam as ações de toda uma equipe. A questão que quero destacar aqui é que, para os gestores atuais, são necessárias não só as competências do chefe, mas principalmente as do líder. Mas o que é a liderança propriamente? Os pensadores Hemphill e Coons, a definiram como “o comportamento de um indivíduo quando está dirigindo as atividades de um grupo em direção a um objetivo comum”. Para mim, a liderança nada mais é que um processo de condução de um grupo de pessoas. É a habilidade de motivar e influenciar uma equipe para alcançar os objetivos e resultados esperados.
E aí surgem outras perguntas: como ser um bom líder hoje? Quais técnicas podem contribuir para moverem os líderes para a realização efetiva de ações que beneficiem a empresa e a equipe? Eu já trabalho há alguns anos com treinamentos de líderes e já vi muitas corporações investirem em diversos treinamentos complexos que acabam sem trazer nenhum resultado. A informação passada pode estar correta, mas a maneira com que isso é feito não é a mais indicada. E foi aí que voltei novamente ao nosso passado para encontrar uma maneira de tornar esse aprendizado realmente eficaz e duradouro na mente da liderança. Nada melhor aqui do que contar uma boa história.
Contar histórias está no DNA do ser humano. A humanidade se usa de histórias desde o começo da vida para passar suas mensagens uns aos outros. E convenhamos, não podemos negar que uma boa narrativa acaba nos unindo e prendendo nossa atenção. Hoje, as empresas começam a aprender como incluir o seu conteúdo em boas histórias. Coisa que nossas avós, grandes políticos, diretores e diversas pessoas sempre souberam: uma narrativa bem feita e estruturada é uma ótima ferramenta para transmitir mensagens e engajar o público.
E por que não usar isso no mercado de trabalho para engajar os líderes que exercem uma função tão importante no ambiente corporativo? Usar o Storytelling para influenciar positivamente os gestores e transmitir conhecimento com a carga emocional que boas histórias proporcionam, pode ser uma tacada de mestre. O recurso ajuda os líderes a se comunicarem melhor, alinhando estratégias e absorvendo as informações de uma maneira bem mais simples e fácil de memorizar, afinal, as historias são um desdobramento natural do que vivemos.
Um ótimo exemplo para ilustrar melhor o que estou falando é o da multinacional americana, General Eletric. A empresa começou a ter problemas com a transmissão da sua história internamente. Com os novos líderes assumindo as posições, foi constatado que, muitos deles, na verdade não sabiam muito sobre a história da empresa, sua visão, de onde veio, etc. Por isso, a GE começou a investir em treinamentos para as lideranças, baseadas em Storytelling, criando um novo caminho para a comunicação. Eles desenvolveram um blog, o GE Reports, para contar a sua história. A ferramenta tinha o difícil desafio de contar 100 histórias em 30 dias e, dessa forma, os líderes aprenderam sobre todos os produtos da empresa, história, funcionários, visão e funções.
Não existem regras prontas para a prática do Storytelling nesses casos. De toda forma, como afirma um dos maiores mestres em Storytelling, o professor de escrita criativa, Robert Mckee, do qual tive o prazer de participar de um dos seminários: “É necessário desenvolver histórias coerentes e verdadeiras, que recompensem o tempo e a atenção das pessoas”.
Uma das principais características do Storytelling, e que garante bons resultados, é o fato de trocar e valorizar experiências de verdade, bem estruturadas e coerentes com os objetivos. Histórias de liderança podem servir como base para construção de outras e contribuir para o surgimento de outros grandes líderes.
*Por Luiz Alexandre Castanha, administrador de Empresas com especialização em Gestão de Conhecimento e Storytelling aplicado a Educação, atua em cargos executivos na área de Educação há mais de 10 anos.