Um relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) publicado em 2022 revela um cenário preocupante para o Brasil. O país ocupa o segundo lugar em uma lista de 37 nações no que diz respeito à população jovem que não estuda nem trabalha, conhecida como “Nem-Nem”. Ao ficar atrás apenas da África do Sul, este é um problema que tem implicações profundas não apenas para a juventude, mas para toda a economia brasileira.
Segundo os números apresentados por outra pesquisa, dessa vez o estudo “Education at a Glance”, 36% dos jovens brasileiros com idades entre 18 e 24 anos se encontram nessa situação.
E a questão vai além dos números. Esse é um indicador alarmante, já que impacta diretamente o orçamento público do país.
Quando se limita o acesso da população – e não apenas os jovens, mas também os idosos – à educação e à renda, o governo se vê obrigado a preencher essa lacuna. Isso se traduz em gastos crescentes em programas sociais, uma despesa que recai sobre todos os contribuintes.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a participação dos idosos na força de trabalho brasileira vem crescendo nos últimos anos. Em 2022, a população com 60 anos ou mais representou 12,2% da força de trabalho, o que corresponde a 7,5 milhões de pessoas.
Essas pessoas estão cada vez mais ativas e dispostas a trabalhar, porém é necessário aprender novas habilidades e se adaptar às mudanças tecnológicas. De acordo com uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), apenas 14% dos idosos brasileiros concluíram algum curso de qualificação profissional.
Diante dessas realidades desafiadoras, a capacitação digital surge como uma solução viável e necessária para jovens e idosos. Esse formato de educação oferece inúmeras vantagens que podem romper o ciclo de desemprego e falta de qualificação.
De que maneira? Confira a seguir:
- Acessibilidade: a aprendizagem digital é acessível a todos, independentemente da localização geográfica ou recursos financeiros. Ela permite que jovens e idosos, independentemente de sua situação econômica, tenham a oportunidade de adquirir habilidades valiosas.
- Flexibilidade: a educação digital permite que os alunos aprendam no seu próprio ritmo e de acordo com suas agendas. Isso é particularmente benéfico para os jovens que podem ter compromissos familiares ou trabalhos de meio período. Além disso, para os idosos, a flexibilidade é essencial, pois muitos têm compromissos de cuidados com a família.
- Relevância: a aprendizagem digital pode ser direcionada para atender às necessidades do mercado de trabalho atual e futuro. Isso significa que os alunos podem adquirir habilidades que são procuradas pelos empregadores, aumentando suas chances de encontrar emprego.
- Empoderamento: a capacitação digital não apenas fornece habilidades técnicas, mas também promove a confiança e o empoderamento. Para os jovens, isso pode significar a diferença entre uma vida de dependência e a capacidade de criar um futuro independente. Já nos idosos, abre novas oportunidades e garante uma aposentadoria mais confortável.
É fundamental que o Brasil reconheça a importância desse tipo de capacitação. Mas, para isso, é necessário dar um passo para trás e pensar primeiramente na inclusão digital dessas pessoas. Premissa fundamental nos tempos atuais, ela desempenha um papel importante principalmente no acesso a oportunidades em um mundo cada vez mais conectado.
A saída é investir em programas e políticas que tornem tanto a inclusão como a educação digitais amplamente acessíveis. Não é apenas uma questão de justiça social, mas também de sustentabilidade econômica.
Educar nossa população, jovens e idosos, é o caminho para um futuro melhor, onde todos têm a oportunidade de contribuir para a sociedade e alcançar seu potencial. Se não agirmos agora, o ciclo de “Nem-Nem” continuará a prejudicar a nação. A capacitação digital é a chave para quebrar esse ciclo e criar um futuro mais promissor para todos.
*Luiz Alexandre Castanha, administrador de empresas com especialização em gestão de conhecimento e storytelling aplicado à educação, coautor do livro “Olhares para os Sistemas” e é CEO da NextGen Learning.