Asset Hacking — Busque parcerias com quem está hackeando você… Seu futuro pode depender disso!

O Asset Hacking está conectado com a quarta revolução industrial e está intimamente ligado com novos modelos de negócio, de empresas como Uber e AirBnB, baseados no desenvolvimento de uma nova estratégia para colocar os ativos online e comercializá-los. Também mencionamos em outros artigos que é importante avaliar seus ativos e até comercializar seus processos e técnicas para viabilizar ganhos em outras empresas. No entanto, é fundamental você estar atento à cadeia de valor e a parcerias, pois você pode ser hackeado sem perceber, sofrer disrupção ou enfrentar uma concorrência que pode afetar muito sua lucratividade.

Para exemplificar, vamos falar de dois modelos de negócio que subestimaram o asset hacking embora estejam intimamente ligados às novas tecnologias:

Telecomunicações, Aparelhos Celulares e o Whatsapp

As empresas de telecomunicações historicamente tiveram que investir pesadamente em infraestrutura, e também em evoluções tecnológicas para atender a um mercado crescente. De início o negócio era baseado na telefonia, e foi uma grande revolução a disponibilização da telefonia celular. Algumas empresas como a BlackBerry se destacaram no mercado corporativo pela robustez e facilidade de comunicação, como o BBM, e as empresas de telefonia celular foram ficando para trás, tendo de investir em infraestrutura para aumentar a banda de voz e, cada vez mais, de dados.

Os investimentos das empresas de telefonia celular para dados foram feitos em sucessivas tecnologias: 2G (0,2 Mbps), 3G (WCDMA: 0,3 Mbps, HSPA: 14,4 Mbps, HSPA+: 42 Mbps) e agora 4G (LTE: 100 Mbps) e 5G (10 Gbps); esta última ainda um pouco distante.

Nesse meio tempo, além do BlackBerry, outras empresas de aparelhos celulares cresceram vertiginosamente, como Apple e Samsung, utilizando a estratégia de Asset Hacking para crescer sem precisar investir em torres de comunicação e com as mudanças tecnológicas que foram tornando as redes obsolescentes.

Quem se destacou mais ainda no Asset Hacking foi o WhatsApp. Sem precisar investir nem em redes nem no processo industrial de fabricação de aparelhos, utilizou proveito da comunicação de dados (similar ao BBM que funcionava somente na rede do BlackBerry) e criou concorrência com as próprias empresas de telecomunicações. O pessoal do WhatsApp foi além, pois não só tirou proveito da telefonia celular como passou a fazer o Asset Hacking também das redes wi-fi.

Hoje, empresas de telefonia se veem obrigadas a oferecer pacotes que permitem acessos ao WhatsApp como forma de incentivar o uso, dado que cada vez menos pessoas usam voz, e a comunicação passou a ser muito forte por meio do aplicativo. Os pacotes de voz das empresas de telecomunicações tendem a ser ilimitados, o que não paga mais o investimento, uma vez que a rede ficou ociosa. E pela frente existe a expectativa de evolução para redes 5G, o que torna praticamente inviável o investimento dado que quem tira mais proveito são as empresas de software e conteúdo.

2. TV a Cabo vs. Netflix e Youtube

Outro enorme desafio era cobrir e disponibilizar cada vez mais cobertura, e dar oportunidade às pessoas do acesso a uma infinidade de programas de televisão. Isto alimentou a indústria do entretenimento, e as empresas de TV a Cabo investiram em infraestrutura para atender à demanda crescente. Foram feitos investimentos em distribuição (rede a cabo), porém quem agiu com o Asset Hacking desta estrutura foram as empresas desenvolvedoras de conteúdo. Utilizaram a rede criada para disponibilizar seus programas e se popularizar. Pacotes e modelos de pay per view foram se sofisticando como forma de remunerar os investimentos em conteúdo.

No entanto, uma revolução estava por vir: o Asset Hacking da Netflix. A empresa tirou proveito tanto da infraestrutura de internet montada, quanto dos conteúdos já desenvolvidos, e disponibilizou o entretenimento sob demanda, sem necessidade de imobilizar capital em nada. Apenas negociou parcerias. Segundo o Internet Phenomena Report, até 2020 o entretenimento real-time, que já está em 71% (35% do Netflix e 18% do Youtube), atingirá 80% da capacidade de toda a infraestrutura de TV a Cabo.

Outra tendência muito forte do Asset Hacking é o uso das redes de telefonia celular também para o entretenimento real-time, já atingindo 74% da rede (19% do Youtube e 14% do Facebook).

Com estas mudanças, surgiu também uma nova classe de desenvolvedores de conteúdo, os Youtubers, que rivaliza em audiência com os grandes estúdios de entretenimento, mas com investimentos muito menores. Um novo mercado surgiu dentro do próprio mercado hackeado.

Com um volume de dados cada vez maior trafegando, e sem melhorar o rendimento das redes de TV a Cabo, estas por sua vez passaram a enfrentar a concorrência da telefonia celular, e ficou cada vez mais difícil ampliar a infraestrutura de fibra ótica, necessária para fazer frente à demanda existente, e à praticidade de cada vez mais aplicativos e dados em nuvem.

Com os dois exemplos acima procuramos deixar claro por que o Asset Hacking tem um efeito de quebrar barreiras, mesmo quando as empresas investem em tecnologias atuais. Por meio dele, as empresas de software e conteúdo são as maiores beneficiárias por não terem que enfrentar a obsolescência. As empresas de infraestrutura precisam se aproximar entre si e fazer parcerias com as empresas de software, caso contrário ficarão cada vez mais sujeitas a enfrentarem prejuízos. Estas parcerias serão também a única forma de viabilizar os investimentos necessários para uma evolução ainda mais ampla no uso da tecnologia, tanto para o aumento da velocidade de comunicação da rede de telefonia celular, quanto para atingir uma distribuição mais ampla das redes de fibra ótica.

Um lema para as empresas que querem sobreviver nessa realidade: “Reap the benefits of asset hacking or R.I.P..” (Tire proveito dos benefícios do Asset Hacking ou “descanse em paz”, do latim Requiescat In Pace).

* [Texto em coautoria: Leandro Franz, sócio e consultor da People+Strategy, Élcio Brito e João Seixas, ambos diretores de tecnologia da SPI Integração de Sistemas]

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