Após a COP30: o que realmente mudou — e o que as empresas precisam observar agora*

A COP30, encerrada em 22 de novembro de 2025 em Belém, marcou um ponto de inflexão na agenda global de clima. Ao final dos trabalhos, foi aprovado o chamado Pacote de Belém — 29 decisões adotadas por consenso entre os 195 países participantes. Entre os destaques, o lançamento do TFFF, mecanismo internacional de financiamento para conservação de florestas tropicais, chamou a atenção pela ambição e pela escala.

O significado das decisões para o mundo dos negócios

O Pacote de Belém consolida um novo arranjo: clima, natureza e finanças passam a dialogar de forma mais consistente. A criação do TFFF, em particular, transforma a conservação da natureza num ativo estratégico — num contexto em que preservar florestas pode significar acesso a recursos financeiros, incentivos e parcerias internacionais.

Isso redefine o terreno para empresas com impacto ambiental, uso de terra, matérias-primas sensíveis, logística ou cadeias produtivas que envolvem recursos naturais. O que antes era visto como “responsabilidade socioambiental” começa a se consolidar, para muitos, como parte da licença social para operar e competir.

O que a COP30 entregou de concreto — e o que ainda depende de implementação

Do lado positivo, a conferência aprovou formalmente a estrutura de financiamento de longo prazo para conservação florestal, com compromisso inicial de mais de US$ 5,5 bilhões e o apoio de dezenas de países ao lançamento do TFFF.

Também há avanços significativos em temas como adaptação climática, transição justa e inclusão de questões sociais — sinal claro de que a emergência ambiental passou a ser tratada como agenda sistêmica, não apenas ecológica.

Por outro lado, nem todos os desejos se transformaram em decisões vinculantes. A COP30 não aprovou um cronograma global para eliminação imediata de combustíveis fósseis — o que mantém elevado o grau de incerteza regulatória e de mercado.

Além disso, o sucesso do TFFF — e de qualquer iniciativa de preservação ou bioeconomia que dele dependa — dependerá de marcos de governança claros, fiscalização, estrutura de incentivos robusta, parcerias público-privadas eficazes e da confiança de investidores. Ou seja: o anúncio existe, mas a implementação será determinante.

Para as empresas: riscos, oportunidades e decisões estratégicas

Para organizações que têm impacto sobre terra, recursos naturais, logística ou cadeias que envolvem sensibilidade ambiental, o novo contexto exige atenção. A compatibilidade com exigências ambientais, rastreabilidade de insumos, compliance socioambiental e transparência — antes vistas como “desejáveis” — podem se tornar requisitos competitivos e de acesso a capital.

Em paralelo, há janelas concretas de oportunidades: negócios relacionados à conservação, restauração ambiental, bioeconomia, créditos de carbono, prestação de serviços ambientais ou soluções de logística e produção sustentável podem ganhar tração e valor. Empresas que se anteciparem, alinhando estratégia e ESG, poderão ocupar posições de vantagem.

Mas a hora exige planejamento: iniciativas emergentes como o TFFF não garantem ganhos automáticos — exigem estruturação, governança, rigor e visão de longo prazo. Portanto, decisões de investimento ou reposicionamento estratégico devem considerar risco, custo-benefício e possíveis cenários regulatórios.

Conclusão: clima, negócios e futuro — o desafio de liderar com visão

A COP30 trouxe mais do que promessas: formalizou um novo ecossistema de incentivos globais por natureza, adaptação e conservação. Para o mundo corporativo — especialmente para empresas expostas a recursos naturais, logística, meio ambiente ou cadeias sensíveis — o recado é claro: o contexto mudou, e quem não se adaptar pode enfrentar riscos de reputação, desempenho e competitividade.

Mas há também uma via de valor: quem enxergar as mudanças com estratégia, compromisso e longo prazo, pode transformar desafios em vantagem competitiva — assumindo protagonismo em uma transição inevitável, mas ainda aberta a quem estiver disposto a liderar.

O momento exige clareza, governança, coragem e visão estratégica pois a gestão do contexto ambiental atual, é matéria obrigatória. No limite, não importam muito as visões dispares sobre quem causou o possível desequilíbrio, mas muito mais quais são as expressões factuais: chuvas curtas e intensas, invernos rigorosos, verões escaldantes, pouca demarcação entre estações em países de clima temperado e muitas outras, que acabam por alterar profundamente, por exemplo o calendário de cultivo e plantio. Ou mudam impactos nas empresas seguradoras, formas de drenagem e tratamento de água, de conservação e transporte, etc. Ignorar estas mudanças e refugiar-se na dicotomia ideológica ou política colocará em risco muitas empresas e pessoas. É possível atuar a partir da visão de oportunidades ou de ameaças e riscos, mas acima de tudo o momento exige responsabilidade com o futuro.

*por João Roncati, CEO da People+Strategy – consultoria brasileira reconhecida e respeitada por seu trabalho estratégico com a alta liderança de grandes companhias. Mais informações no site.