Há alguns anos, conversando com o emérito professor da USP, Carlos Guilherme Mota, refletíamos sobre sua visão de sistema e suas múltiplas dimensões. Para ele, três conceitos são fundamentais: sistema, estrutura e processo.
Tenho para mim que tudo é sistema. Nós próprios somos sistemas interagindo com outros: pessoas, empresas, meios de comunicação, administração pública, famílias, sociedade, país, mundo, planeta, Universo. São múltiplas relações com as quais interagimos constantemente.
E podemos testemunhar que o sistema tem vida própria, imprevisibilidade, valores, necessidades, regras e objetivos — assim como nós. Por isso, se não aprimoramos os sistemas, não criamos condições para cenários melhores.
Olhando para o mundo de hoje, percebemos que continuamos girando em círculos. A arrogância, o poder, a busca por dinheiro a qualquer custo, a corrupção e a fragilidade das instituições ainda moldam a realidade.
Uma das armadilhas mais perigosas está em acreditar que desenvolvimento humano e organizacional é secundário e/ou dispensável. De fato, em todas as camadas sociais, quase ninguém quer se aprofundar em si mesmo, desenvolver-se e transformar-se em alguém melhor.
• Os que têm menos recursos vivem em modo de sobrevivência.
• A classe média segue um roteiro pré-estabelecido — nascer, estudar, casar, ter filhos — sem espaço para reflexão.
• Os que possuem privilégios constroem bolhas para proteger o conforto conquistado.
O resultado é que muitos seguem anestesiados, presos ao ciclo de trabalhar, pagar contas e buscar pequenos alívios em consumo ou vícios. É mais fácil fugir da reflexão do que encarar a transformação.
E é justamente aí que entra a importância do ADTT (Autoconhecimento, Desenvolvimento, Transformação e Transcendência). O despertar para olhar para si, reconhecer pontos positivos e negativos, ampliar a consciência e, a partir disso, transformar-se e transformar o entorno, é o que rompe esse ciclo. O desenvolvimento humano e organizacional não é luxo: trata-se de necessidade estratégica, tanto para indivíduos quanto para organizações.
Constata-se que a maioria só busca o ADTT quando a dor é insuportável, quando a vida saiu dos trilhos. Preventivamente, quase ninguém procura esse caminho — e é esse o maior erro. Gestores de RH, líderes e pessoas comuns precisam compreender que investir no desenvolvimento humano e organizacional é o que sustenta equipes engajadas, organizações mais saudáveis e uma sociedade mais justa e próspera.
O despertar exige coragem: olhar a si mesmo sem extremismos, assumir responsabilidades e buscar evolução contínua. É lento, exige esforço — mas é o único caminho capaz de criar impacto real e duradouro para si e para o mundo.
Em verdade, diante dos inúmeros desafios da vida, a maioria prefere abrir a “carteira” para beleza, comida e lazer, porque isso exige menos trabalho interior. Para cenários mais graves, recorrem a anestesias rápidas — vícios como bebida, drogas, jogos e até relações superficiais.
É mais fácil gastar para fugir da dor do que investir em si mesmo. Mas, enquanto isso, continuamos presos no mesmo ciclo: sobreviver, consumir, anestesiar… e repetir. C’est la vie? Ou apenas é uma escolha inconsciente de permanecer na estagnação?
Enfim, a consciência que desperta, também assusta.
*Viviane Gago, advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site