Em determinada época da vida, eu tinha uma tendência de considerar o que era útil sob a minha perspectiva e descartar sumariamente o que entendia ser inútil.
Essa coisa de separar tudo em útil e inútil, hoje vejo que se trata de um equívoco enorme, que inclusive fomenta a objetificação de coisas e pessoas, um caminho muito errado para evoluirmos enquanto seres humanos seja no individual seja coletivamente.
Atualmente, pego-me permanentemente refletindo sobre o efeito do egoísmo nas relações e para o próprio planeta.
“A ideia do egoísmo como negativo ou positivo é bastante questionável, se pensarmos sob uma perspectiva adaptacionista e/ou evolucionista”, explica o psicólogo Ricardo Wainer, psicoterapeuta cognitivo-comportamental e professor titular do Curso de Psicologia da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica Rio Grande do Sul). Afinal, o julgamento moral dos comportamentos dos indivíduos sempre deve ser levado em consideração dentro do contexto histórico, cultural, social e econômico em que ocorrem”.
Já segundo a Enciclopédia e Significados, “Egoísmo é um substantivo masculino que nomeia um amor-próprio excessivo, que leva o indivíduo a olhar só para suas opiniões, interesses e necessidades, e que despreza as necessidades alheias”. Em Psicologia, a atitude intelectual daquele que tudo se refere ao próprio eu, é chamada de egocentrismo.
Todo mundo é capaz de citar, em linhas gerais, as características de um egoísta: alguém que só pensa em sim mesmo e nas próprias necessidades e se coloca, na maioria das vezes, em primeiro lugar, desconsiderando os demais, mesmo que os magoe. O egoísta, pode ser denominado também de individualista, comodista e exclusivista.
E o antônimo de egoísta? São as pessoas generosas, altruístas, prestativas e desprendidas.
Em cada ciclo de vida, há um impacto maior ou menor em se ter uma postura egoísta mais ou menos acentuada. Naquele ciclo de vida denominado anos de luta, de achar um lugar no mundo e consolidá-lo para ganhar o sustento da vida, construir a vida material como se diz, olha-se, de fato, muito mais para as próprias necessidades em detrimento das dos outros, porém olhando a sociedade como está, me parece que o egoísmo vem em uma crescente e permeando todas as gerações, de uma maneira mais negativa que positiva.
Vou dar alguns exemplos do que acredito ser egoísmo. Primeiro deles: conversando com adolescentes de 15 anos de idade, uma parte deles dizia que não queria ter filhos, pois dá trabalho, e queriam somente pensar na vida deles, no autocuidado, vontades próprias e responsabilizar-se somente por si.
Segundo exemplo: estamos no mês de junho, que tem como símbolo a cor vermelha, relacionada a campanha de incentivo à doação de sangue. Quantos vocês conhecem que, de fato, doa sangue para outros?
Terceira situação: Com a atual tragédia no Rio Grande do Sul, dor absurda que a população gaúcha está vivenciando, muitos estão por questão de ofício ou não cooperando, mas essa atitude não deveria ser algo costumeiro e não somente em momentos de crise e caos?
Último exemplo é a relação e cuidado com idosos, em especial os sem condições econômicas. Esse tema que já bateu ou muito provavelmente baterá à sua porta. Pessoas estas com um certo número de filhos, netos e bisnetos, que não dão a devida atenção e cuidado. Será que as próximas gerações entenderão que família se constrói para ter um amanhã (com os filhos) e retribuirão aos pais pelo tempo que nos presentearam para nos criar?
Conforme diz a professora Lucia Helena Galvão, professora de Filosofia da Nova Acrópole no Brasil, “o egoísmo humano, que sempre gera as consequências desastrosas que vivemos sejam econômicas, políticas, de convívio social etc, segundo os tibetanos o maior defeito do ser humano chama-se heresia da separatividade, ou seja, o egoísmo como o elemento que está por trás de todos os problemas do mundo; e vivemos em uma sociedade que estimula esse egoísmo e não temos uma consciência clara como isso impacta nossas vidas e estão entranhadas nas pessoas. Ela diz também: um grande problema é que os indivíduos querem resolver o problema deles primeiramente, não considerando as pessoas ao lado, e no entorno; acontecendo isso em várias dimensões, a exemplo de elevadores quando as pessoas querem entrar sem deixar quem está no interior sair primeiro, no trânsito , filas de supermercados etc.”
Por fim, importante mencionar uma pesquisa feita por Christoph Adami, da Michigan State University, que reforça o quão prejudicial é assumir uma postura egoísta, abordando que “Agir de má fé pode dar uma vantagem competitiva a curto prazo mas certamente não a longo prazo. E, inevitavelmente, levaria à extinção da nossa espécie”.
É importante ser melhor, cooperativo para com os outros também, sem ter em mente uma contraprestação. Somos seres maleáveis, adaptáveis, seres em construção, por isso tudo é possível melhorarmos coletivamente, pensando firmemente no bem-estar coletivo e não somente no individual como ocorre hoje.
Precisamos com urgência aumentar o número de pessoas cooperativas, generosas, altruístas, prestativas, desprendidas e desapegadas.
Vamos nos engajar nisso?
*por Viviane Gago, advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site