Quando falamos de liderança, dada a necessidade implícita desta função de gerir outras pessoas, importante ter em mente a grande importância de ser consciente e ter a habilidade de saber lidar, inclusive emocionalmente, com pessoas; e para isso acontecer é mandatório que o indivíduo que ocupe esta posição tenha o foco no seu próprio autoconhecimento e desenvolvimento. Somente conhecendo bem a si mesmo, evoluindo, uma pessoa pode ter um olhar melhor para o outro, inclusive para apoiá-lo e desenvolvê-lo.
Agora focando no segmento da advocacia, a dinâmica e estrutura desta carreira demanda muita leitura, aquisição de conhecimento e um esforço relevante para atuar na profissão, ou seja, esta carreira exige um bom nível de formação e instrução.
Podemos dizer também que é uma profissão, assim como outras, em que há a presença de algumas características essenciais para quem quer segui-la a exemplo de e; falando aqui de uma forma mais geral: comunicação, persuasão, criatividade, resolução de problemas, manter-se atualizado, fazer uma gestão adequada do tempo/prazos, dentre outras.
Sucede que, em realidade, é fato, inclusive registrado e divulgado pela mídia existe a distorção de tais características, acima indicadas, como por exemplo ao invés de uma comunicação clara e com sentido, o profissional do direito tem uma comunicação cheia de juridiquês, ou seja, uma linguagem específica do meio, que é caracterizada pelo uso exagerado de termos e conceitos técnicos, os jargões jurídicos, ou uma comunicação excessivamente eloquente e cansativa.
Ego inflado e pouca habilidade no trato com as pessoas
Há também aqueles com ego inflado e disfuncional. Ou seja, não quer dizer que pelo fato daquela pessoa ter lido e estudado muito, que é portadora de competência, bom senso, bom trato na gestão de pessoas e muito menos ter sabedoria para atuar na carreira e na vida pessoal; assim como pode ocorrer em qualquer outra profissão.
Existem vários ramos do direito e com advogados, muito geralmente especializadíssimos, principalmente nos escritórios de advocacia diferentemente dos Departamentos Jurídicos de empresas em que são muito comumente generalistas, ou seja, entendem um pouco de todas as áreas; não obstante estes aspectos, existe sim uma dinâmica funcional comum a todos os profissionais do direito e que inclui a necessidade da aplicação das características exemplificadas acima.
Aqui cabe outra importante reflexão a de que como o advogado, pelas características essenciais da profissão, tem comportamentos que conceituamos “para fora e menos para dentro” importante ter consciência disso para desenvolver outras importantes e complementares características como a escuta em níveis mais avançados, onde se tem presente a mente, o coração e a vontade, o foco genuíno no desenvolvimento de outros profissionais menos experientes etc.
A natureza competitiva, vaidosa, ambiciosa e querente de status que envolve alguns advogados pode naturalmente levar as pessoas a apenas se focarem em si mesmas; criando suas bolhas individuais, nem sempre saudáveis. E exemplos de indivíduos obtendo crédito do trabalho feito por outros, indivíduos ficando com a maior parte do lucro sem distribuí-los de maneira justa, causando prejuízo para a própria equipe, pensamento só no eu e não no nós; profissionais querendo se sobressair a todo o custo, pessoas não focando em cooperação e na força do coletivo (equipe); foco exacerbado nos ganhos financeiros deixando o aspecto humano de lado, ou seja, dos colaboradores equipes enxutas trabalhando a exaustão, desvirtuar e/ou utilizar o conhecimento que tem das leis para fins ruins, etc.
E quando o cenário aqui referenciado envolve os líderes das equipes de advogados? Diga-se os gerentes, diretores de Departamentos Jurídicos, os gestores dos escritórios etc., pode-se dizer que prejuízos de todas as naturezas ocorrem.
Para quem acompanha os movimentos desse mercado, deve se lembrar de quantos escritórios bem estruturados e dignos de admiração pelo trabalho realizado sofreram rupturas graves e até mesmo ruíram por conta de divergências especialmente focadas na ambição da repartição dos lucros, quantas equipes sofrem nas mãos de líderes disfuncionais, que não se trabalham/desenvolvem para estarem preparados para apoiarem e gerirem outras pessoas, ou seja o seu próprio time ou equipe.
Verificando o movimento, que se acredita não ter volta, qual seja o da humanização das organizações, devemos nos questionar, será que os profissionais do direito, paradoxalmente conhecedores dos vários ramos do direito, leis etc. estão preparados para além de olharem o retorno financeiro de suas empresas, olharem também para as pessoas de uma maneira mais humanizada e diferente do que vem ocorrendo?
Saúde mental no meio jurídico
Por que se diz do que vem ocorrendo? Porque sabemos do alto índice de profissionais do direito com transtornos de ansiedade, depressão, pânico, burnout e até cometimento de suicídio. Muitos ambientes são um verdadeiro barril de pólvora, com práticas de não compliance, muita exigência, pouca compaixão e compreensão. Lembram-se daquele ditado “Casa de ferreiro espeto de pau”? Retrata bem o que se diz aqui.
Pela experiência de anos na advocacia, verifica-se que é necessário os profissionais do direito com posição de liderança, além de executarem suas atividades técnicas jurídicas, passarem a inserir no seu dia a dia novos conhecimentos de gestão de pessoas, para além de lidar com o objeto fim da empresa, lidar de maneira mais humana, com escuta genuína, compreendendo melhor as questões envolvendo as pessoas, a fim de impactar positivamente suas respectivas equipes de advogados, que em um ambiente mais saudável e de confiança , certamente desempenharão suas atribuições muito melhor.
Precisa-se urgentemente de lideranças fazendo a diferença em todos os setores, incluindo o jurídico, em que essas pessoas como tais, além de ganhar dinheiro por meio da prestação de um bom serviço, impactem o seu entorno de maneira saudável e positiva. Aqui compartilha-se alguns ótimos comportamentos de uma excelente liderança (Fonte: Livro Olhares para os sistemas):
– Que desperte admiração e respeito, tendo credibilidade face a equipe;
– É confiável;
– Tenha a habilidade e generosidade de delegar, desenvolvendo a equipe e premiar o potencial que cada pessoa (colaborador)possui.
– Tenha segurança para ter pessoas muito boas, excelentes no seu time e reconhecer a importância disso;
– É hábil na comunicação clara e que se faça entender para qualquer público, sem excesso de termos técnicos e jargões jurídicos.;
— Tenha uma ótima gestão emocional;
– Sabe escutar e considera, verdadeiramente, outros pontos de vista;
– Valoriza as diferenças e é humilde para ter em mente que sempre haverá o que aprender;
-Colabora com as mudanças, estando aberta a elas e passando segurança para a equipe;
– Demonstra coragem em ser vulnerável;
– Exerce influência positiva;
– É humana;
– Confere o devido reconhecimento aos liderados;
– Tem conhecimento técnico estruturado e eficiente.
Concluo este texto com um trecho do livro Empresas Humanizadas, que dispõe sobre aquele movimento que mencionei não ter volta, ficando aqui a dica para mais uma boa reflexão relacionada ao aspecto de que ter ganhos /lucros é preciso, porém com mesma importância é a necessidade de olhar para as pessoas, que em verdade, fazem tudo acontecer, sem elas, nada é possível.
“Acreditamos que o negócio é bom, porque ele cria valor; é ético, porque se baseia na troca voluntária; é nobre, porque pode elevar a existência; e é heroico, porque tira as pessoas da pobreza e cria prosperidade. Muito do bem está sendo feito atualmente “inconscientemente” simplesmente criando produtos e serviços que as pessoas valorizam, criando postos de trabalho e gerando lucros. No entanto, o negócio também pode ser feito muito mais conscientemente, com um propósito mais elevado e criação de valor ótimo para todos os stakeholders, enquanto cria culturas que aprimoram o desenvolvimento humano. Conforme as pessoas, especialmente líderes, tornam-se mais conscientes, somos capazes de criar tipos de empresas empreendedora que ajudarão a resolver nossos problemas mais graves e elevarão a humanidade para satisfazer nosso potencial ilimitado como espécie”.
*por Viviane Ribeiro Gago, facilitadora em Desenvolvimento Humano, autora dos livros A Biografia de uma pessoa comum, Olhares para os sistemas, Advocacia Corporativa, dentre outros; advogada e mestre em Direito das Relações Sociais. Mais informações em site