Feminismo: o olhar de todos os gêneros

Neste mês, em que é celebrado o Dia das Mulheres, senti-me impulsionada a revisitar o tema Feminismo. Não obstante séculos de história, luta, reivindicações, o feminismo na sociedade atual ainda é uma questão mal compreendida, inclusive pelas próprias mulheres, pois não se deve buscar a competição, nem a masculinização delas para sobreviverem no mercado de trabalho, nem se esquecerem do seu valor como fato gerador de seu êxito profissional.  Devemos sim focar na conquista de direitos iguais na sociedade, sabendo que cada gênero tem seus potenciais e que chegam em ótimos resultados com características distintas, porém com importâncias iguais.

É algo básico, sem haver a necessidade de pedir permissão como ocorreu na história, a possibilidade de as mulheres estudarem, trabalharem onde quiserem e desejarem, votarem, divorciarem, vestirem-se com as roupas que desejarem; tudo isso porque é o certo. Aliás isso tudo extrapola para dizer que é o certo para qualquer ser humano independentemente de seu gênero.

Por isso, apesar da obviedade dos direitos para os seres humanos inquestionavelmente serem iguais, inclusive na remuneração de determinado cargo profissional ocupado por qualquer gênero que seja, a rotina de vida, as escolhas diárias vão depender de cada ser envolvido e não do gênero. Há mulheres que se sentem felizes focando a vida com mais ênfase na carreira e não optando por filhos, há homens felizes em ficar em casa cuidando dos filhos enquanto a mulher trabalha. Não há fórmulas exatas para a realidade da vida das pessoas, mas há sim certos padrões prevalecentes.

O ponto é que neste tema estamos ainda muitíssimos atrasados e sabemos isso por pesquisas bem estruturadas e pelas próprias notícias que correm o mundo, que o processo de equidade entre homens e mulheres é algo lento. Varia de país para país, porém é vagaroso como um todo, existindo verdadeiras aberrações de cerceamento de direitos básicos das mulheres, a exemplo de países africanos, o Paquistão, Irã, além de outros países que seguem o Islamismo.

Basta lembrar que aqui mesmo no Brasil, nós, mulheres, adquirimos o direito ao voto, em 1932 como voto facultativo com alguns critérios, isso no Governo Vargas.

Lembremo-nos de um dos casos que mais impactou o mundo, Malala Yousafzai, a paquistanesa que desafiou os talibãs. Ela foi baleada aos 15 anos de idade por defender a Educação Feminina. O ataque aconteceu não faz muito tempo, há quase 12 (doze) anos atrás. A que preço Malala ganhou o prêmio Nobel da Paz?

Importante mostrar ainda que suscintamente alguns dados de nosso país, obtidos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2012), Mapa da Violência, Instituto Sangari, 2012, Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Data Senado, 2013; e Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2012, IBGE, em que:

  • A mulher ainda ganha, em média, 23,5% a menos do que o homem que desempenha a mesma função no mercado de trabalho;
  • Num ranking de 84 nações, o Brasil é o sétimo onde mais matam mulheres;
  • Um país no qual 19% da população brasileira feminina com dezesseis anos ou mais admite já ter sofrido algum tipo de agressão física;
  • Um país que tem vergonha de homens que param de trabalhar e passam a ser sustentado por mulheres, mas que admite e até acha bonito a mulher parar de trabalhar para cuidar dos filhos, que aliás é o que ainda acontece hoje.
  •  Onde nós, mulheres, ainda entendemos que se fôssemos escolher um chefe homem ou mulher, preferíamos os homens; e
  • Mulheres estudam mais que os homens e recebem menos que eles.

Há também uma pesquisa atual e interessante da MacKinsey, uma inacreditável fotografia/gráfico da presença da mulher em postos de trabalho; 

A ascensão da mulher lentamente vai se tornando concreta e cada vez mais real, porque é o certo para este e qualquer gênero.

Por fim, ressalto outro aspecto importante e passível de melhora, qual seja a importância do apoio e valorização mútua de uma mulher para com as outras; e não ao contrário, uma prática constante de concorrência e competição; além da masculinização para se impor no mercado. Já temos desafios suficientemente grandes para enfrentar e não precisamos sabotar umas às outras nem tampouco esconder nossa feminilidade, aliá o mundo precisa dela.

Quanto aos homens, sugiro que comecem a enxergar genuinamente suas vulnerabilidades e as trabalhar. Isso fará um bem tremendo a vocês e ao entorno, pois esse gênero sofre assim como as mulheres, porém em outros aspectos; que muitas vezes sequer são percebidos e acolhidos.

Vamos pensar em construir algo melhor e por todos os gêneros e não ficarmos estacionados em velhos padrões que já vimos que não deu certo, vamos dar mérito e reconhecimento às pessoas, independentemente de seu gênero.

* por Viviane Gago, advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site www.vivianegago.com