Rumo a um meio jurídico mais diversificado e inclusivo

Há muito anos, mais de 20 (vinte) anos atrás, me recordo que trouxe uma pessoa deficiente do gênero masculino para trabalhar na equipe. Resultado: a empresa não comprou a ideia e a pessoa saiu bastante rápido.

Felizmente, com o tempo, esse tema foi ficando cada vez mais em evidência e, hoje, muitos falam a respeito. Será que depois de tanto tempo esse assunto está mais calibrado e no caminho certo? Acredito que a sociedade colocou sim mais “luz “no assunto, o está reconhecendo, conscientizando-se a este respeito, porém assim como outros temas é algo que caminha lentamente além de ser algo desafiador, pois ainda o é permeado por muita subjetividade e crenças.

E o mercado como se posiciona a este respeito? Há empresas que dizem que investem neste tema porque isso traz mais dinheiro, inovação, market- share etc. Será isso um direcionamento adequado, para a questão? Penso que não.

É fato que as pessoas com deficiências, candidatos negros, mulheres, LGBT etc, todos são seres humanos e não devem ser restringidos à determinadas características /e ou orientação sexual, que possuem.

Acatar a diversidade é o certo a se fazer. Ter um ambiente inclusivo em que as características e a orientação sexual das pessoas são respeitadas é algo básico; porém infelizmente ainda não avançamos muito neste assunto porque é mais um que cai no mesmo problema de sempre, qual seja o ser humano evolui muito lentamente, sob o ponto de vista de fraternidade, de olhar o próximo com empatia genuína e entender que todos temos os mesmos direitos, direito de ter uma vida digna.

A verdadeira inclusão contempla muitos aspectos como por exemplo a a correta comunicação, vez que piadas que agridem um certo grupo social, comentários sexistas, são cenários discriminatórios e não devem ser feitos.

Devemos ter pé no chão neste assunto e trabalhar para avançar de maneira pragmática, avaliando os recursos que as pessoas precisam efetivamente, sem romantismo e conotação emocional.

Devemos respeitar as diferenças e isso deve ser inegociável.

Gestores devem atentar para o fato de que as pessoas, por exemplo, com deficiência; algumas estarão prontas outras não estarão, assim como todos nós, ressaltando que o mundo não é preparado estruturalmente para as pessoas com deficiência, mas devemos insistir e contratá-los, até porque todos indistintamente precisam de trabalho como forma de obter dignidade para ter acesso a saúde, alimentação e moradia, no mínimo. 

Outro ponto que devemos enfrentar neste contexto é o fato que a educação no país é algo muito problemático e não trabalhado por vários governos ano após ano, e é também fato que a camada mais pobre, sem acesso a uma boa escolaridade, não tem boas posições no mercado de trabalho. 

Lembremos que o nosso país, percentualmente, é de pardos e negros, que segundo o IBGE é 56% (cinquenta e seis por cento) dos brasileiros; precisamos olhar para isso com muita atenção e ter tomada de ação. Essas pessoas quase nunca entram em boas vagas, a experiência da vida real evidencia isso. Assim, o mecanismo das cotas, vagas exclusivas ajudam a avançar neste ponto e devem ser vistas de maneira positiva. O ser humano não é fraternal o suficiente e o sistema não está preparado para absorver pessoas dentro do guarda-chuva da diversidade, sem os mecanismos mencionados.

 Somos únicos e devemos ser complementares. Não deve existir guerra entre homens e mulheres no mercado de trabalho, devemos sim valorizar as potencialidades de cada um para ocupar qualquer cargo e função que exista no mercado.

Devemos deduzir menos e perguntar mais para as pessoas, de maneira direta, temos que enfrentar este tema, e ir eliminando as fantasias relativas à ele. Devemos dialogar focando na verdade e na transparência.

Há um longo caminho pela frente no que diz respeito a diversidade, porém temos que nos empenhar para incluir a todos; o que contribuirá para que os ambientes se adaptem com maior velocidade de maneira a atender as necessidades reais que irão acontecendo. Não é possível ficar esperando tudo está certo para lidar com a inclusão, até porque todos temos contas para pagar.

Vamos parar de julgar, de supor e vamos agir na direção da inclusão focando no desempenho das pessoas, que não devem ser estereotipadas, jamais.

Vamos olhar para as diferenças para ampliar e aprender, não para reduzir e/ou restringir.

* por Viviane Gago, advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site