Perder para ganhar: está na hora de rever as estratégias do seu futuro*

Quem nunca se deparou com o conto da vaca leiteira que foi jogada do penhasco? É tão cristalino como as metáforas representam sabedorias óbvias, mas que nós – por hábito, relutamos a aceitar.

No entanto, esta história é uma metáfora sobre o que temos que ver na nossa vida e que, ao mesmo tempo, nos limita, pois é na coragem de renunciar ao leite de todos os dias, que somos forçados a fazer outras coisas para desenvolver novas habilidades que nunca imaginamos possuir. Assim, começamos a prosperar e nossa vida muda.

Com esse pensamento que eu vos estímulo a pensar se vocês teriam coragem de demitir um cliente ou mesmo desistir de uma unidade de negócios da sua empresa? Ainda mais daquela vaca leiteira, que tem um grande faturamento. Conseguiu? Pode até parecer uma insanidade pensar dessa maneira – ou não, se pensarmos que precisamos mudar, antes que o leite quente acabe.

A transformação digital e também a (re) evolução tecnológica que têm dominado o mundo nos últimos anos, ainda mais no mercado corporativo, merece uma reflexão séria sobre o futuro que você planeja para a sua empresa. Aliás, como você vê o cenário que a sua organização está inserida daqui a 5 ou 10 anos? As atividades ainda terão relevância ou há chances de serem ultrapassadas?

Caso haja dúvidas – ou mesmo esse exercício rápido de futurologia que ainda não tenha sido feito – é necessário rever com urgência as prioridades suas e de seus parceiros de gerência e diretoria.

Medo? Irracionalidade? Sim… E quantas empresas gigantes de mercado não pereceram por não acreditar na mudança drástica de ventos que o futuro trouxe? Existem poucos erros corporativos tão surpreendentes quanto as oportunidades perdidas pela Kodak em fotografia digital, uma tecnologia que ela mesma inventou em 1975.

Esse fracasso estratégico foi a causa direta do declínio da Kodak durante décadas, à medida que a fotografia digital destruía seu modelo de negócios baseado em filmes. Esse é o caso clássico da vaquinha leiteira!

Outro case mundialmente conhecido é o da Blockbuster. Sinônimo de locação de filmes em vídeo e depois DVD desde a sua criação em 1985 foi derrubada pela inovação de concorrentes como a Netflix.

E, novamente o destino bateu à porta: no ano 2000 a Netflix era uma startup de aluguel de DVDs pelo correio e estava com dificuldades financeiras. Essa empresa chegou a bater na porta da Blockbuster, mas a gigante achou a oferta US$ 50 milhões era demasiadamente cara e a proposta de compra foi declinada.

É impossível pensar que a sua empresa possa ter um triste destino como esses? Mas lhe atrevo a dizer que são as escolhas suas e do seu time diretivo que farão a diferença entre o sucesso no futuro e a falência.

Nessa hora que a expressão ‘perder para ganhar’ faz o maior sentido. E o melhor exemplo disso é a LG, que fechará as portas de suas fábricas de celulares em todo o mundo ainda em 2021, inclusive no Brasil.

Ao sair do competitivo mercado de smartphones, a empresa focará em segmentos como peças para veículos elétricos, equipamentos IoT e dispositivos para casas inteligentes, além de outras tecnologias como robótica e inteligência artificial.

Inovação e disrupção em estado bruto! E é este o mesmo caminho que a sua empresa precisa avaliar seguir. Sim, a LG nos últimos anos teve prejuízos com smartphones, porém rever a estratégia e focar em tecnologias em ascensão é uma decisão muito mais acertada do que continuar brigando em um mercado já consolidado.

Além do que disse o iluminado Albert Einstein que “insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”, não é vergonha nenhuma cortar áreas que não são rentáveis ou demitir clientes problemáticos que só dão trabalho. Ao reduzir processos, questionar o status quo, abrir mão do escritório no coração da Faria Lima, é que será possível focar em novas ideias e estratégias que levem a um futuro mais promissor.

Sim, o faturamento irá encolher, mas o orgulho não tem lugar no mundo dos negócios. Ao contrário, cortar na própria carne e acreditar no futuro trará a atenção do mercado e talvez até novas parcerias que tragam aportes, inovação e um olhar diferenciado.

Sim, eu fiz isso! Estou falando de causa própria. E vos digo que “foi uma grande sorte” ter jogado minha vaquinha do penhasco.

*por Fabrício Vendichetis Martins, Founder e CEO da Indigosoft, única empresa no Brasil de BPO Digital, sendo a fabricante de seus softwares de robotização. Mais informações em www.indigosoft.com.br